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Terminada a campanha, Angola espera por "dia da verdade"

António Cascais (Luanda)
21 de agosto de 2017

Os candidatos às eleições gerais angolanas de quarta-feira terminaram um mês de campanha, cada um com os seus meios, argumentos e cabeças-de-lista. Seis partidos políticos lutam pelos 220 assentos no Parlamento.

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Apoiantes da UNITA no Cazenga, local onde o partido encerrou a sua campanha
Apoiantes da UNITA no Cazenga, local onde o partido encerrou a sua campanha Foto: DW/A. Cascais

No dia de encerramento da campanha eleitoral, ninguém quis perder os kuduristas que estavam anunciados para atuarem no palco da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o partido que promete o que muitos jovens aqui desejam: mudança.

Esta segunda-feira (21.08), logo pela manhã, o denominado terreiro da Filda, no Cazenga, Luanda, começou a encher-se, sobretudo de jovens vindos a pé ou em táxis comuns, para ouvir o líder da UNITA, Isaías Samakuva.

"Por todo o lado por onde nós passamos ouvimos o grito da mudança", disse Isaías Samakuva. "Todos os angolanos nos dizem que estão a sofrer muito", sublinhou.

MPLA confiante

Nesta campanha, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) usou outra tática e deixou uma mensagem de otimismo e de auto-confiança. Segundo João Lourenço, não passa pela cabeça de ninguém, dentro do MPLA, a possibilidade de uma derrota.

"Temos a certeza que vamos ter um bom resultado. Vamos atingir a maioria qualificada de mais de dois terços", disse o candidato do MPLA no sábado (19.08), no comício de encerramento do partido no poder.

Terminada a campanha, Angola espera por "dia da verdade"

A mensagem do MPLA foi bi-facetada e em parte contraditória. Por um lado, o partido apresentou-se como partido renovado, com um novo cabeça-de-lista e candidato à presidência da República. João Lourenço foi ao longo das semanas apresentado como homem que vai abrir uma nova página na história do país, diversificando a economia e combatendo a corrupção.

Por outro lado, Lourenço foi apresentado como "homem do sistema",  que dará continuidade à obra do Presidente cessante, José Eduardo dos Santos, que apareceu uma única vez ao lado do cabeca do cabeça-de-lista, no último comício do MPLA.

Problemas de transparência

Segundo os observadores, a campanha correu de forma calma e ordeira e não se registaram casos significativos de intolerância política, nem de violência entre apoiantes e militantes dos diferentes partidos concorrentes.

A mesma avaliação positiva não se pode fazer do processo eleitoral em si, que apresenta bastantes problemas, afirma o rapper angolano MCK. "Infelizmente, os processos eleitorais em Angola, e em África de um modo geral, ainda não obedecem à transparência e lisura dos procedimentos de justiça", lamenta.

Rapper MCK aus Angola
MCK: "Este escrutínio está muito viciado"Foto: DW/A. Cascais

Segundo o músico, "este escrutínio está muito viciado", por práticas de tratamento desigual - por exemplo, por parte da imprensa pública. "Os partidos politicos da oposição têm um espaço de antena muito reduzido. O MPLA tem muitas horas, usa os meios do Estado, está a fazer inaugurações cíclicas", critica ainda MCK.

Críticas à CNE

Ao longo da campanha eleitoral, surgiram também críticas à Comissão Nacional Eleitoral (CNE). As críticas não são novas e tinham também sido levantadas nas últimas e penúltimas eleições angolanas. Fala-se, por exemplo, de muitas dificuldades na acreditação dos delegados de lista dos partidos concorrentes, problema levantado sobretudo pelo terceiro maior partido angolano, a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) de Abel Chivukuvuku.

Critica-se ainda o facto da CNE, que tem ao todo 17 comissários, ter no seu seio 10 representantes indicados pelo partido no poder, incluindo o seu presidente e a sua porta-voz. Fala-se ainda de milhares casos que indiciam, no mínimo, alguma falta de organização, vendo-se muitos eleitores obrigados a votar em mesas de voto muito distantes das suas residências.

Apesar de todos os problemas, também já registados nas eleições de 2008 e de 2012, os resultados acabaram por ser validados, tanto pela CNE, como pelos tribunais, como pelos observadores e pelos próprios partidos concorrentes.

Amanhã, terça-feira (22.08), é dia de reflexão. Quarta-feira, dia 23 de agosto, é o "dia da verdade".