Terminada a campanha, Angola espera por "dia da verdade"
21 de agosto de 2017No dia de encerramento da campanha eleitoral, ninguém quis perder os kuduristas que estavam anunciados para atuarem no palco da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o partido que promete o que muitos jovens aqui desejam: mudança.
Esta segunda-feira (21.08), logo pela manhã, o denominado terreiro da Filda, no Cazenga, Luanda, começou a encher-se, sobretudo de jovens vindos a pé ou em táxis comuns, para ouvir o líder da UNITA, Isaías Samakuva.
"Por todo o lado por onde nós passamos ouvimos o grito da mudança", disse Isaías Samakuva. "Todos os angolanos nos dizem que estão a sofrer muito", sublinhou.
MPLA confiante
Nesta campanha, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) usou outra tática e deixou uma mensagem de otimismo e de auto-confiança. Segundo João Lourenço, não passa pela cabeça de ninguém, dentro do MPLA, a possibilidade de uma derrota.
"Temos a certeza que vamos ter um bom resultado. Vamos atingir a maioria qualificada de mais de dois terços", disse o candidato do MPLA no sábado (19.08), no comício de encerramento do partido no poder.
A mensagem do MPLA foi bi-facetada e em parte contraditória. Por um lado, o partido apresentou-se como partido renovado, com um novo cabeça-de-lista e candidato à presidência da República. João Lourenço foi ao longo das semanas apresentado como homem que vai abrir uma nova página na história do país, diversificando a economia e combatendo a corrupção.
Por outro lado, Lourenço foi apresentado como "homem do sistema", que dará continuidade à obra do Presidente cessante, José Eduardo dos Santos, que apareceu uma única vez ao lado do cabeca do cabeça-de-lista, no último comício do MPLA.
Problemas de transparência
Segundo os observadores, a campanha correu de forma calma e ordeira e não se registaram casos significativos de intolerância política, nem de violência entre apoiantes e militantes dos diferentes partidos concorrentes.
A mesma avaliação positiva não se pode fazer do processo eleitoral em si, que apresenta bastantes problemas, afirma o rapper angolano MCK. "Infelizmente, os processos eleitorais em Angola, e em África de um modo geral, ainda não obedecem à transparência e lisura dos procedimentos de justiça", lamenta.
Segundo o músico, "este escrutínio está muito viciado", por práticas de tratamento desigual - por exemplo, por parte da imprensa pública. "Os partidos politicos da oposição têm um espaço de antena muito reduzido. O MPLA tem muitas horas, usa os meios do Estado, está a fazer inaugurações cíclicas", critica ainda MCK.
Críticas à CNE
Ao longo da campanha eleitoral, surgiram também críticas à Comissão Nacional Eleitoral (CNE). As críticas não são novas e tinham também sido levantadas nas últimas e penúltimas eleições angolanas. Fala-se, por exemplo, de muitas dificuldades na acreditação dos delegados de lista dos partidos concorrentes, problema levantado sobretudo pelo terceiro maior partido angolano, a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) de Abel Chivukuvuku.
Critica-se ainda o facto da CNE, que tem ao todo 17 comissários, ter no seu seio 10 representantes indicados pelo partido no poder, incluindo o seu presidente e a sua porta-voz. Fala-se ainda de milhares casos que indiciam, no mínimo, alguma falta de organização, vendo-se muitos eleitores obrigados a votar em mesas de voto muito distantes das suas residências.
Apesar de todos os problemas, também já registados nas eleições de 2008 e de 2012, os resultados acabaram por ser validados, tanto pela CNE, como pelos tribunais, como pelos observadores e pelos próprios partidos concorrentes.
Amanhã, terça-feira (22.08), é dia de reflexão. Quarta-feira, dia 23 de agosto, é o "dia da verdade".