Tentativa de golpe de Estado na Bolívia gera crise política
27 de junho de 2024A Bolívia enfrentou uma grave crise política nesta quarta-feira (26.06), quando o comandante geral do Exército, Juan José Zuñiga, ameaçou tomar a sede do governo em La Paz. Zuñiga, acompanhado de tanques e militares fortemente armados, ocupou a praça em frente ao edifício governamental, provocando uma resposta imediata do presidente Luis Arce.
Os eventos se desenrolaram rapidamente, com um tanque arrombando as portas da sede do governo.
O vice-presidente David Choquehuanca denunciou a situação como um "golpe de Estado" em andamento e pediu apoio da comunidade internacional. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Celinda Sosa, também alertou para as mobilizações irregulares das unidades do Exército.
Um vídeo divulgado na televisão mostrou o presidente Arce confrontando o comandante Zuñiga no corredor do palácio, ordenando a retirada dos soldados. Após a intervenção direta do presidente, Zuñiga e suas tropas se retiraram. Arce também anunciou a substituição de todo o alto comando militar, visando estabilizar a situação.
Acusações de "auto golpe"
Apoiantes do antigo Presidente Evo Morales acusaram o atual líder da Bolívia, Luis Arce, de realizar um "auto golpe de Estado" para aumentar a sua popularidade, quando o país atravessa uma crise económica.
"[De] magistrados auto prorrogados a um auto golpe, o povo boliviano está a afundar-se na incerteza", disse o presidente da câmara alta do parlamento da Bolívia, Adrónico Rodríguez, citado pelo jornal 'El Deber'.
Rodríguez referia-se aos juízes do Tribunal Constitucional, Supremo Tribunal, Tribunal Agroambiental e Conselho da Justiça, que decidiram prolongar os seus mandatos em dezembro face ao impasse político.
Também César Dockweiler, um outro dirigente do Movimento para o Socialismo, partido liderado por Evo Morales e que domina o parlamento da Bolívia, falou de um "auto golpe" para fortalecer Arce durante uma crise económica.
A deputado Luisa Nayar descreveu a operação militar como um "espetáculo político incrível, montado pelos irresponsáveis, incapazes e corruptos, inquilinos" da Presidência da Bolívia, que acusou de usarem "um general maluco".
Horas antes, o ministro do Interior da Bolívia, Eduardo del Castillo, garantiu que Zuñiga pretendia "assumir o comando" do país, numa operação militar que "não foi um exercício".
O governante alegou que houve "gestão política" dos acontecimentos, uma vez que alguns setores tinham anunciado a realização de protestos esta semana e Zuñiga procurava "ganhar o apoio popular".
O ministro garantiu que o Governo fará "todos os esforços" para que Zuñiga e Arnez "sejam condenados por sublevação armada, ataque ao Presidente e destruição de propriedade pública e privada".
Ao ser detido pela alegada "tentativa de golpe de Estado", Zuñiga acusou Luis Arce de ter ordenado a operação militar.
Detenção e reações
Zuñiga foi detido pouco depois ao deixar o quartel-general do Estado-Maior, acusado de "tentativa de golpe de Estado". A Procuradoria-Geral do Estado abriu uma investigação contra ele e os militares envolvidos. A comunidade internacional reagiu rapidamente, com a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia condenando a tentativa de golpe. Líderes regionais também expressaram solidariedade ao governo de Arce.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, afirmou categoricamente que a organização não tolerará "qualquer forma de violação da legítima ordem constitucional na Bolívia".
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, também condenou "qualquer tentativa de golpe" e expressou "a sua solidariedade com o Governo e o povo boliviano", numa mensagem partilhada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros português na rede social X.