Televisão digital: sinal ainda não chegou a todos os países
18 de junho de 2015Dois Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) - a Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe - aparecem na lista da União Internacional de Telecomunicações da ONU, que inumera os países que falharam o prazo para a introdução da televisão digital, a par de utros países, como a República Centro-Africana, a África do Sul e a Serra Leoa.
Na África do Sul, o Ministério das Comunicações já havia admitido que não poderia cumprir o prazo, apesar da força económica do país. Uma série de contratempos entre agências governamentais e empresas de radiodifusão também travaram o início do processo.
Quando estará concluida da conversão?
Para a cientista política sul-africana Julie Reid, “quando a conversão será feita” é uma pergunta sem resposta. Ela explica que um dos principais problemas é o custo da conversão. Quem não tem uma TV digital compatível deve adquirir um decodificador, que custa cerca de 50 dólares.
E adianta: "Os valores de todos os serviços básicos na África do Sul estão a aumentar, embora a maioria da população seja pobre. E ainda querem que as pessoas paguem do próprio bolso por algo tão simples como um serviço básico de comunicação. Por isso, há tanta resistência. É algo muito difícil de as pessoas alcançarem."
O governo prometeu distribuir de forma gratuita cinco milhões de decodificadores, mas segundo Reid, o número não é suficiente.
Custos incomportáveis para as camadas pobres
Os custos da conversão digital são um pesadelo em África. Em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, o valor do aparelho chega a 300 dólares, fora do alcance de muitos moradores, como Guy Asalako. O jovem congolês conta que o salário mensal da classe média se situa entre os 70 e os 90 dólares e, por isso, o momento da conversão digital ainda não chegou para os congoleses. Com o fim do prazo, a questão continua a ser adiada.
O jornalista Boubacar Diallo, do Níger, conta que nada mudou na estação de TV em que trabalha. A rotina dele e dos colegas é a mesma, já que os equipamentos necessários à conversão não existem. E eles não sabem por quanto tempo isso vai continuar.
Crises e terrorismo atrasam o processo de digitalização
Um dos grandes mercados midiáticos do continente, a Nigéria ainda não concluiu o processo de implantação da TV digital. Um dos principais motivos para o atraso é a instabilidade política e a constante ameaça da milícia terrorista Boko Haram, afirma Auwalu Salihu.
O porta-voz da Comissão Nacional de Radiodifusão da Nigéria afirma: “O programa de conversão digital começou no meio de uma série de problemas políticos no país. Estávamos no meio de uma transição. Um novo presidente assumiu o cargo depois de o anterior ter falecido. Tudo isso não permitiu que os governos prestassem a atenção devida à digitalização. É uma vergonha não conseguirmos cumprir o prazo.”
Salihu alerta que os países que não aderirem à conversão digital podem perder a proteção da União Internacional de Telecomunicações. Os sinais analógicos podem ser desligados caso passem a interferir nos satélites digitais.
A Fundação dos Média da África Ocidental expressou "profundo pesar" com a falta de progressos. Quando o fim da era analógica televisiva finalmente chegar, devem surgir novos obstáculos. Os operadores da rede podem aumentar o preço da transferência, custo que pode ser fatal para as pequenas empresas de radiodifusão.
Poucos países conluiram processo
Em África, apenas Moçambique, Ruanda, Tanzânia , Malawi e Ilhas Maurícias concluíram o processo.
A Televisão Digital Terrestre ainda está em fase de implantação em Cabo Verde, com um impasse sobre a entrada de novos canais no sinal aberto. A conversão deve se estender até 2016, depois que a Autoridade Nacional de Comunicações de Portugal concluir um processo de reorganização de frequências.