Síria: Investigações e diplomacia após ataques
15 de abril de 2018Os investigadores internacionais da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) já estão em Douma, nos arredores da capital da Síria, Damasco, onde um alegado ataque com armas químicas, na semana passada, levou os Estados Unidos, a França e o Reino Unido a lançar uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, este sábado.
O presidente dos EUA, Donald Trump, justificou o ataque como uma resposta à "ação monstruosa" realizada pelo regime de Damasco contra a oposição e prometeu que a operação irá durar "o tempo que for necessário". Segundo o secretário-geral da NATO, a ofensiva teve o apoio dos 29 países que integram a Aliança.
Entretanto, Washington, Paris e Londres decidiram voltar aos esforços diplomáticos. O trio remeteu no sábado ao Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução sobre a Síria, que inclui um novo mecanismo de controlo sobre o uso de armas químicas.
O texto, que abrange três áreas - química humanitária e política - foi redigido pela França e deverá ser entregue na segunda-feira, segundo fontes diplomáticas. Não foi avançada qualquer data para a votação do texto, com Paris a referir que pretende garantir algum tempo para permitir uma "verdadeira negociação".
Falácias e mentiras
Já este domingo, Bashar Al-Assad denunciou uma "campanha de falácias e mentiras" contra o seu país no Conselho de Segurança da ONU, durante uma reunião em Damasco com deputados russos.
O líder sírio disse ainda que Rússia e Síria "estão a travar uma batalha contra o terrorismo, mas também para proteger a lei internacional baseada no respeito à soberania dos Estados soberanos e a vontade dos seus povos".
Aos deputados russos, segundo as agências de notícias russas, Assad descreveu os ataques ocidentais como um "acto de agressão" e elogiou ainda os sistemas de defesa da Síria, da era soviética.
"Do ponto de vista do Presidente, isto foi uma agressão e nós partilhamos esta posição", disse o deputado russo Sergei Zheleznyak, citado pela agência de notícias TASS, após o encontro com Bashar Al-Assad.
O assunto deve também dominar os trabalhos na cimeira da Liga Árabe, a decorrer na Arábia Saudita.
Investigação difícil em Douma
A vista dos deputados russos, este domingo, coincide, segundo a AFP, com o início do trabalho da missão da OPAQ em Douma, onde os investigadores internacionais querem perceber se foram usadas armas químicas - gás sarin e cloro – contra civis, num ataque na localidade nos arredores de Damasco, a 7 de abril. Mais de 40 pessoas morreram e 500 ficaram feridas.
Mas os investigadores têm uma tarefa difícil pela frente. Por um lado, os poderes ocidentais anteciparam as conclusões, alegando a existência de provas do uso de armas químicas para justificar os ataques deste sábado. Por outro lado, a equipa da OPAQ terá também de lidar com a possibilidade de as provas já terem sido retiradas do local – uma área controlada pela polícia militar russa e forças governamentais sírias durante a semana passada.
"É preciso ter essa possibilidade sempre em conta e os investigadores vão procurar provas de manipulação do local do incidente", diz Ralf Trapp, consultor e membro de uma anterior missão da OPAQ à Síria.
"A equipa chegou a Damasco no sábado e vai a Douma no domingo", disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros sírio Ayman Soussan à AFP. A declaração surgiu depois de o regime de Bashar al-Assad ter anunciado o controlo de todas as áreas rebeldes do leste de Ghouta depois da saída dos últimos rebeldes da Douma.
"Vamos deixar a equipa fazer seu trabalho de forma profissional, objetiva e imparcial e longe de qualquer pressão [das autoridades]", afirmou, considerando que os resultados demonstrarão que são falsas as alegações de que é o regime sírio o culpado dos ataques.
A missão recebeu um convite do Governo sírio, sob pressão da comunidade internacional, que nega a autoria do ataque.