Ex-mercenário afirma que Trovoada financiou golpe de Estado
17 de junho de 2019O ex-mercenário Peter Plácido Lopes, autor da denúncia em 2017 de que ex-primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, é o financiador do golpe de Estado de 2003, voltou a confirmar esta segunda-feira (17.06.) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) as suas afirmações.
Peter Lopes disse ainda que o ex-Presidente são-tomense, Manuel Pinto da Costa, foi alvo de tentativa de eliminação física por duas vezes.
A Comissão Parlamentar de Inquérito ao golpe de Estado de 2003 em São Tomé e Príncipe retomou esta segunda-feira as audições depois de na semana passada ter auscultado o ex-chefe de Estado Fradique de Menezes, o antigo ministro da Defesa e Ordem Interna Óscar Sousa, e o ex-mercenário, do extinto batalhão Búfalo, Arlécio Costa, chefe dos golpistas,
Em declarações prestadas à CPI, Peter Lopes disse que "estou aqui para dizer ao povo de São Tomé e Príncipe que o cidadão Patrice Trovoada, deu-nos ordens para matar Pinto da Costa, Fradique de Menezes, e Óscar de Sousa. Esses três líderes sabem que é perfeitamente verdade”.
O mercenário do extinto batalhão búfalo ao reafirmar que o ex-primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada, foi o financiador do golpe de Estado de 2003 acrescentou que "fui eu quem ía à casa de Patrice Trovoada na altura quando era ministro dos Negócios Estrangeiros....a sua casa no "Campo de Milho”, para buscar sacos de dinheiro para sustentar os doze elementos que viviam no Quilombo. Quem entrou com o armamento aqui em São Tomé, eles me usaram e depois dizem que sou subalterno”.
Casa de Trovoada serviu de logísticaPeter Lopes explicou, por outro lado que "nas primeiras horas da madrugada do dia do golpe, Patrice Trovoada foi o primeiro dirigente que "apareceu no quartel-general. Ligamos-lhe informando que já tínhamos tomado o poder”, disse o ex-mercenário.
Questionado por Cílcio Santos,presidente da CPI, Peter Lopes deixou claro que a casa da família Trovoada serviu de logística para o desencadear do processo.
"Há registos que durante a execução do golpe em 2003, por intermédio do cidadão Peter Lopes, vinha da casa da família Trovoada por intermédio do cidadão Patrice Trovoada, ajudas em géneros alimentícios confirma isto? Sim confirmo”.
Segundo Peter Lopes, Patrice Trovoada, contratou por duas vezes, o batalhão Búfalo para eliminar fisicamente o ex-Presidente do país, Manuel Pinto da Costa, em 2003 e 2016. A estratégia de acordo com os relatos de Peter Lopes, passava primeiro pela morte do então chefe de campo de Pinto da Costa, o major José Maria Menezes, atual chefe do destacamento militar na região do Príncipe.
"Em 2016 na campanha presidencial ele nos mandou partir a perna do guarda-costas de Pinto da Costa. Se eu Peter ou se um dos meus colegas fizesse isso o que diriam?... Vão buscar o Patrice Trovoada, para que ele possa dizer o contrário.”No seu depoimento diante da CIP, Peter Lopes, explicou as motivações secundárias que terão levado Patrice Trovoada a financiar a subversão da ordem em 2003.
"Toda a gente sabe da guerra entre Pinto da Costa e a família Trovoada. Todo o mundo sabe do problema que Fradique Bandeira Mello de Menezes teve com a família Trovoada. E ainda todo o mundo sabe que Patrice Trovoada e Oscarito não se dão (…)”
Entretanto, o ex-Presidente Manuel Pinto da Costa que deveria ser ouvido esta segunda-feira pelo CPI não compareceu e não apresentou justificação, enquanto a ex-primeira-ministra, Maria das Neves, que também seria auscultada, encontra-se ausente do país.
Depois de concluir as audições, "será feito um relatório que será submetido à mesa do plenário da Assembleia Nacional", de acordo com que tomará a decisão "que pode passar pelo seu envio para o tribunal em função das provas produzidas".
Recorde-se, que a CPI foi criada pela Assembleia Nacional por uma resolução parlamentar em fevereiro passado, com votos a favor das bancadas do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), da coligação PCD-UDD-MDFM e dos dois deputados independentes do Movimento por Caué, contra 23 da Ação Democrática Independente (partido de Patrice Trovoada, agora na oposição) para apurar um alegado envolvimento do ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada no golpe de Estado de 2003 em São Tomé.