Sul-africana que saiu de Gaza reconstrói vida em Joanesburgo
25 de janeiro de 2024Em quase três décadas, Zaakirah Chotiah assistiu a conflitos, mas conta que nada se compara ao que testemunhou nos dias que se seguiram a 7 de outubro, depois dos ataques do Hamas.
"Temos muita sorte de ter saído. É um milagre de Deus. Vimos muitas coisas que não deveríamos ter visto", relata.
Agora está a tentar reconstruir a vida em Joanesburgo, mas as memórias não se apagam. "A vibração do som dos mísseis quando atingiram o chão. Todas as janelas do prédio se partiram e ficaram como espinhos à nossa volta. Por isso, se estivéssemos na posição errada, ficávamos gravemente feridos", recorda.
Chotiah casou-se com um palestiniano, constituiu família e construiu uma vida em Gaza. Ensinava inglês e fazia trabalho humanitário. Mas a vida sofreu uma reviravolta abrupta na sequência dos ataques que marcaram o início do conflito na Faixa de Gaza.
"Vimos como os edifícios se desmoronavam diante dos nossos olhos. E quando havia bombardeamentos, tinham como alvo uma área a três minutos da nossa casa. Enquanto eu e as crianças observávamos da nossa varanda, dissemos: está mesmo a chegar perto de nós", conta.
"Fomos para uma escola primária onde ficámos uma semana. Circunstâncias difíceis, dormir no chão, muita gente... E toda a gente gritava e estava aterrorizada e furiosa", acrescenta a sul-africana.
Fuga através do Egito
Diante desse cenário, apercebeu-se que tinha de fugir. Com os filhos, viajou para Rafah, na fronteira com o Egito, onde esperaram mais de um mês até serem autorizados a sair de Gaza.
Chotiah diz que a fé foi a chave para continuar, mas não consegue deixar de se preocupar com os que ficaram para trás, incluindo o ex-marido. "Espero que ele possa sair, porque confiou em mim para vir com as crianças para aqui em segurança", diz.
A sobrevivente apela ao mundo para que faça mais para proteger os civis nos territórios palestinianos: "Precisam mesmo de pessoas que façam a sua parte para que se consiga um cessar-fogo que se mantenha. Precisam de paz nas suas vidas. Estão cansados da guerra. Não pediram para ser colocados numa situação em que tudo lhes é retirado."
Mais de 1,9 milhões de habitantes de Gaza foram obrigados a fugir de casa desde o início do atual conflito entre Israel e o Hamas.