Sudão: ONU diz que conflito pode gerar crise de refugiados
2 de maio de 2023A agência de refugiados das Nações Unidas alertou que o derramamento de sangue no Sudão pode levar 800.000 pessoas a partir para os países vizinhos. As Nações Unidas alertaram para um afluxo de refugiados que fogem para os países vizinhos do Sudão, enquanto a luta continua entre os principais generais militares do país.
O alto-comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, disse na noite de segunda-feira (01.05) que a agência de refugiados da ONU (ACNUR) está a preparar-se, ao lado de Governos e parceiros, "para a possibilidade de que mais de 800.000 pessoas possam fugir dos combates no Sudão para os países vizinhos".
"Esperamos que não chegue a isso, mas se a violência não parar veremos mais pessoas forçadas a fugir do Sudão em busca de segurança", disse Grandi no Twitter.
Negociações de paz
O Exército sudanês e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido acordaram o envio de representantes para negociações que devem ocorrer na Arábia Saudita. A informação foi avançada esta segunda-feira pelo representante das Nações Unidas no país, Volker Perthes, numa altura em que o conflito continua, apesar da trégua de 72 horas anunciada no domingo.
Caso a negociações venham a ter lugar, incidirão inicialmente no estabelecimento de um cessar-fogo "estável e confiável", disse à agência de notícias Associated Press Volker Perthes, deixando, contudo, o alerta sobre as dificuldades para que as negociações aconteçam.
A decisão foi tomada na sequência da pressão internacional para permitir a passagem segura de civis e de ajuda humanitária.
No entanto, a medida surge após dias de combates contínuos, apesar da trégua anterior. Ambas as partes acusam-se mutuamente de violações.
Enquanto isso, milhares de pessoas tentam fugir do país. Mohamed Ibrahim é um cidadão sudanês-americano que espera conseguir sair do Sudão num dos comboios organizados pelos Estados Unidos…
"Não há informações, as pessoas aqui à volta estão presas. Temos de comprar comida, temos de comprar água por conta própria. Há cerca de cinco horas que não há informações claras, só nos dizem para esperar e ter paciência. Até este momento, não faço ideia de como vou sair deste sítio", disse Ibrahim.
Cessar-fogo
Uma série de tréguas temporárias ocorridas na semana passada amenizou os combates apenas em algumas áreas, enquanto fortes batalhas continuaram noutras.
Grupos humanitários têm tentado repor o auxílio num país em que quase um terço das 46 milhões de pessoas dependia da ajuda internacional antes do eclodir da violência.
No Quénia, o Presidente do país William Ruto fez um apelo durante uma conferência para preparar uma resposta ao agravamento da crise humanitária no Sudão.
"Da mesma forma que conseguimos evacuar pessoas do teatro do conflito, penso que há uma forma de enviar apoio humanitário. Por isso, temos de pensar tanto se houver ou não um cessar-fogo duradouro, o que é que fazemos? Porque isso não impede que haja pessoas que precisem de apoio humanitário".
Os combates entre as Forças de Apoio Rápido e o exército sudanês eclodiram em 15 de abril, face a tensões sobre a reforma do exército e a integração dos paramilitares nas forças regulares, no âmbito de um processo político que visa repor o país na via democrática, após o golpe de Estado de 2021.
Pelo menos 528 civis foram mortos e mais de 4.500 ficaram feridos desde o início dos combates, segundo o Ministério da Saúde sudanês.