Confrontos no Sudão fazem mortos e feridos
3 de junho de 2019O Comité Central dos Médicos Sudaneses descreveu os acontecimentos desta segunda-feira (03.06) em Cartum como um "massacre".
Testemunhas e ativistas denunciam que as forças de segurança sudanesas "varreram" o acampamento dos manifestantes que estão há dois meses à frente do quartel-general do Exército a pedir aos militares que passem o poder aos civis. Imagens divulgadas pela imprensa mostravam colunas de fumo a emergir das ruas da capital.
Militares incendiaram tendas e expulsaram os manifestantes, afirmam testemunhas. Houve ainda relatos de tiros e explosões. E manifestantes montaram barricadas para travar as Forças Armadas. Um deles, ouvido pela agência de notícias Reuters, acusou as forças de segurança de traição - "da polícia às Forças Armadas, passando pela Força de Intervenção Rápida".
Braço-de-ferro persiste
Os militares sudaneses destituíram o Presidente Omar al-Bashir há quase dois meses, após uma onda de protestos populares. Mas os manifestantes continuam nas ruas, a exigir à junta militar que ficou no poder que dê lugar a um governo de transição formado por civis e com um envolvimento "limitado" de militares.
Mas os generais no poder rejeitam a proposta, e nenhum dos lados dá sinais de ceder. Segundo Philipp Jahn, diretor da fundação alemã Friedrich-Ebert (ligada aos sociais-democratas) em Cartum, "isto tem a ver com o facto de estes grupos estarem, em parte, a ser alvo de pressões externas. Os militares estão certamente a ser pressionados pela Arábia Saudita, pelo Egito e pelos Emirados Árabes Unidos".
"Além disso, nem sempre os grupos da oposição concordam sobre como proceder", acrescenta Jahn.
União Africana pede investigação "imediata"
Depois da "invasão" das forças de segurança esta segunda-feira, os manifestantes voltaram a pedir "liberdade, paz, justiça e poder aos civis" nas ruas de Cartum.
Os movimentos opositores apelaram nas redes sociais à "desobediência civil" em todo o país. Anunciaram ainda que iriam suspender as conversações com a junta militar.
Mas os militares asseguram que não desmantelaram o acampamento dos manifestantes e que "as informações e os vídeos sobre os mortos e os feridos" são falsos.
Segundo o porta-voz da junta militar do Sudão, Shamsaldin Kabashi, as forças de segurança intervieram porque um grupo de "criminosos" entrou no acampamento. A situação foi, entretanto, controlada, e os manifestantes podem regressar ao local, disse ainda o porta-voz.
O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, pede uma investigação "imediata e transparente" aos acontecimentos desta segunda-feira. E apela a que manifestantes e militares regressem "urgentemente" às negociações.