Sudão/Protesto: Forças de segurança dispersam manifestantes
30 de janeiro de 2022Os manifestantes exigiam justiça e democracia no Sudão, observou um jornalista da Agência France-Presse.
Mais de três meses após o golpe de Estado do general Abdel Fattah al-Burhane, a mobilização não enfraquece apesar da repressão que já matou 78 manifestantes, muitos deles baleados, de acordo com médicos pró-democracia.
Milhares de manifestantes tomaram as ruas da capital do Sudão e de outras cidades do país, hoje, para a última de uma série de manifestações que se têm realizado há vários meses, denunciando um golpe militar ocorrido em outubro último que mergulhou o país em tumultos.
Os manifestantes, na maioria homens e mulheres jovens, marcharam nas ruas de Cartum e outras cidades, exigindo o fim da tomada do poder pelos militares. Apelaram a um governo totalmente civil para liderar a transição do país para a democracia, agora instalada.
O golpe de Estado fez com que a transição do Sudão para o regime democrático fosse interrompida após três décadas de repressão e isolamento internacional sob o Presidente autocrático Omar al-Bashir. A nação africana tem estado num caminho frágil para a democracia desde que uma revolta popular forçou os militares a retirar al-Bashir e o seu governo islâmico em abril de 2019.
Slogans anti-golpe de Estado
Os protestos são convocados pela Associação de Profissionais Sudaneses e pelos Comités de Resistência, que foram a espinha dorsal da revolta contra al-Bashir e dos incansáveis protestos anti-golpe nos últimos três meses.
As imagens que circularam 'online' mostraram pessoas a bater tambores e a cantar slogans anti-golpe de Estado nas ruas de Cartum e na cidade de Omdurman. Foram também vistos manifestantes com bandeiras sudanesas e outras bandeiras com fotografias de manifestantes alegadamente mortos pelas forças de segurança impressas nelas.
Houve protestos noutros locais do país, incluindo a cidade oriental de Port Sudan, a região ocidental de Darfur e Madani, a capital da província de Jazira, cerca de 135 quilómetros a sudeste de Cartum. Madani assistiu na semana passada a um protesto maciço contra os golpes de Estado.
Antes dos protestos, as autoridades reforçaram a segurança em Cartum e Omdurman. Enviaram milhares de tropas e polícias e selaram o centro de Cartum, incitando os manifestantes a reunir-se apenas em praças públicas nos bairros da capital.
Apelo a protestos sem violência
A missão das Nações Unidas no Sudão advertiu, no sábado, que tais restrições poderiam aumentar as tensões, exortando as autoridades a deixarem os protestos "passar sem violência".
Os grupos de protesto disseram que planeavam dirigir-se ao palácio presidencial, uma área na capital que tem visto confrontos mortais entre manifestantes e forças de segurança em anteriores rondas de manifestações.
Desde o golpe, pelo menos 78 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas numa repressão amplamente condenada contra os protestos, disse o Comité dos Médicos do Sudão, que regista as baixas entre os manifestantes.
Houve também detenções em massa de ativistas que lideraram os protestos contra os golpistas e alegações de violência sexual, incluindo violação e violação em grupo, num protesto de 19 de dezembro em Cartum, de acordo com a ONU.