Suazilândia, a última monarquia absoluta africana
14 de julho de 2014No campo da política nada funciona como noutros países: os partidos estão proibidos há mais de 40 anos e o rei Mswati III governa o país com mão de ferro. Ainda assim, a oposição tenta fazer-se ouvir e, de acordo com os analistas, começa a crescer o apoio aos partidos. Mas serão estas mudanças, aliadas a uma “discreta” pressão internacional, suficientes para mudar o rumo da Suazilândia?
Partidos não valem nada, monarquia é tudo
O Movimento Democrático Unido Popular (PUDEMO) é o principal partido da oposição na Suazilândia. No entanto, para falar com o seu secretário-geral é preciso ligar para um número do sul-africano. No seu país de origem, o PUDEMO está registado como uma organização terrorista. Mlungisi Makhanya fala em mortes inexplicáveis no seu partido.
Á DW conta: "Tenho recebido muitas ameaças de morte, tal como muitos dos nossos camaradas. Fazer frente ao rei e lutar pela liberdade do povo da Suzailândia implica sempre a possibilidade de danos físicos. Mas continuamos a assumir o compromisso e estamos determinados."
A oposição continua a desafiar a proibição de organizar eventos, porque acredita que está no seu direito. Foi o que aconteceu no Dia do Trabalhador, em 2014. Para o presidente do PUDEMO, Mario Masuku, e Mazwell Dlamini, líder do Congresso da Juventude da Suazilândia (um grupo não aprovado), a data acabou em detenção.
Detenções arbitrárias na ordem do dia
Mark Beacon, ativista da organização não-governamental britânica "Ação para a África Austral" explica as razões das detenções: "Masuku e Dlamini foram detidos simplesmente porque declararam o seu apoio aos seus próprios partidos perante os trabalhadores no 1º de Maio. Só o facto de fazerem esse discurso político no dia do Trabalhador levou à sua detenção e a uma acusação de terrorismo, que pode levá-los a enfrentar 25 anos de prisão."
O secretário-geral do PUDEMO, Mlungisi Makhanya, está actualmente em liberdade condicional, depois de ter sido detido em Abril, por vestir uma t-shirt com o nome do seu partido. Makhanya e outros ativistas protestavam contra a prisão de dois jornalistas, por publicarem textos críticos sobre o Rei Mswati.
Rei Mswati III - o todo poderoso
A Suazilândia é a última monarquia absoluta em África. Desde 1986, o Rei Mswati III governa os cerca de 1 milhão de habitantes do seu país. Em 1973, o seu pai proibiu a existência de partidos políticos e declarou o estado de emergência que se prolonga até aos dias de hoje. Mswati baseia-se no chamado sistema Tinkhundla, explica Christopher Vandome, do instituto de pesquisa britânico Chatham House: "Grande parte da população da Suazilândia é composta por comunidades agrícolas rurais, onde há um grande sentido de desconfiança em relação a partidos e mudanças políticas. Apoiam o rei e o sistema tinkhundla, que foi desenvolvido como um sistema para o envolvimento da comunidade."
Ainda assim, diz Mark Beacon, da ONG Ação para a África Austral, está a aumentar o apoio aos partidos políticos na Suazilândia. Segundo o ativista "verifica-se o crescimento e a generalização do apoio popular aos partidos um pouco por todo o país".
Economia em ruinas
O país vive há vários anos à beira da ruína económica, mas agora parece um passo mais perto do abismo: em junho, os Estados Unidos da América decidiram retirar a Suazilândia dos acordos comerciais da AGOA (a Lei norte-americana para o Crescimento e a Oportunidade de África), que entrarão em vigor em 2015. E um outro mercado importante deverá romper as relações com a Suazilândia: está a chegar ao fim o contrato de parceria económica com a União Europeia, que, até agora, facilitava as exportações para o continente europeu.
Cristopher Vandome, no entanto, não acredita que estas pressões serão suficientes para originar as reformas necessárias. O analista aponta ainda uma outra razão para a falta de acção internacional perante o estilo autocrático do Governo do rei Mswati: a Suazilândia não possui recursos minerais significativos, pois, segundo o analista, "há outras prioridades na região e na SADC e há muito pouco interesse na Suazilândia".