Somália: Cinco pessoas terão morrido durante protesto
20 de fevereiro de 2021Abdi Bafo, médico do Hospital de Medina, avançou os números este sábado (20.02), um dia depois de as forças de segurança da Somália dispararem contra centenas de pessoas que se manifestaram em Mogadíscio.
A capital da Somália regressou à normalidade, tendo as ruas sido reabertas, depois de terem sido bloqueadas na sexta-feira (19.02).
O Presidente, Mohamed Abdullahi Mohamed, conhecido como Farmajo, está sob grande pressão depois de o seu mandato ter terminado a 8 de fevereiro e não terem sido marcadas novas eleições.
O Presidente somali ainda não comentou os protestos, enquanto o primeiro-ministro, Mohamed Hussein Roble, disse estar "muito triste" com os acontecimentos.
Troca de tiros
O tiroteio ocorreu um dia depois de os líderes da oposição terem encorajado uma grande manifestação em que exigiriam a realização das eleições, não reconhecendo a autoridade do Presidente somali, Mohamed Abdullahi Mohamed.
Segundo a agência Associated Press, pelo menos uma explosão foi registada no aeroporto internacional de Mogadíscio e um dos líderes do protesto havia adiantado que "algumas pessoas morreram".
Entre os manifestantes, que empunhavam bandeiras nacionais numa estrada que conduz ao aeroporto da capital, encontrava-se o candidato presidencial e antigo primeiro-ministro da Somália Hassan Ali Khaire.
"Eu e outros candidatos presidenciais, deputados, outros funcionários e muitos civis sobrevivemos a uma tentativa de assassinato", disse Khaire na sua página na rede social Facebook.
Os opositores desafiaram assim a proibição de ajuntamentos decretada pelas autoridades, que cortaram as ruas mais importantes da cidade.
Na noite de quinta-feira (18.02), e segundo noticiado por órgãos de comunicação social locais, as forças governamentais entraram em conflito com milícias da oposição na zona de Daljirka Dahsoon, na capital.
Os ex-presidentes Hassan Sheikh Mohamud e Sharif Sheikh Ahmed disseram que o Exército atacou, durante a noite, o hotel onde estavam.
"Fomos injustamente atacados pelo Governo ao invadir o Hotel Maida, onde eu e o antigo Presidente Hassan Mohamoud e outros membros da União dos Candidatos Presidenciais estavam hospedados", disse Ahmed na sua conta na plataforma Twitter.
Apelo à calma e à contenção
Na sexta-feira, a Missão de Assistência das Nações Unidas na Somália (UNSOM) disse estar "profundamente preocupada" com os confrontos armados em Mogadíscio, tendo apelado à "calma e contenção de todas as partes envolvidas" e para que "se mantenham abertas as linhas de comunicação para ajudar a reduzir as tensões".
"Os confrontos em Mogadíscio sublinham a necessidade urgente de os líderes do Governo Federal e dos estados-membros federais se reunirem para alcançarem um acordo político sobre a implementação do modelo eleitoral", acrescentou a Organização das Nações Unidas (ONU).
Os opositores acusam Farmajo, que procura um segundo mandato, de não implementar um pacto alcançado em setembro sobre o modelo das eleições legislativas e presidenciais.
O país manteve um sistema indireto, baseado em clãs, apesar da promessa do Presidente em realizar as primeiras eleições com sufrágio universal desde 1969.
Desde 1991 que a Somália vive num estado de guerra e caos, depois de o autocrata Mohamed Siad Barre ter sido deposto, deixando o país sem governo e nas mãos de milícias islâmicas e de senhores da guerra.