Angola: Centros de acolhimento de refugiados no limite
7 de julho de 2017Desde março deste ano, uma vaga de refugiados da República Democrática do Congo (RDC) tem procurado o território angolano para se refugiarem de atos de violência naquele país vizinho de Angola, essencialmente a província da Lunda Norte, com a qual partilha uma fronteira terrestre comum de 770 quilómetros.
Até agora, mais de 30 mil congoleses procuraram refúgio em Angola. E, todos os dias, continuam a chegar mais refugiados aos centros de acolhimento na província da Lunda Norte.
Mas a capacidade dos centros de acolhimento em Angola está no limite, e falta comida e locais para as pessoas poderem dormir.
Nos centros de acolhimento de Mussunge e Cacanda onde estão alojados provisoriamente milhares de refugiados congoleses, as dificuldades são enormes. Aqui falta quase tudo. Não há colchões e adultos e crianças dormem no chão; além disso, algumas mulheres, incluindo grávidas, dormem ao relento por que não há tendas suficientes.
Alimentação deficienteA alimentação é outro problema. Os refugiados têm apenas uma refeição por dia e queixam-se de todos os dias se alimentarem à base de uma única coisa: pirão com feijão.
Jilbert Ogombi, de 33 anos, apercebendo-se da presença da DW no centro de acolhimento, veio ao nosso encontro para desabafar.
"Eu sou muito responsável, tenho aqui família, estou aqui também com os meus irmãos, agora não tenho lugar certo para dormir, todos estão a dormir no chão sem colchão, não há comida certa é só feijão. A pessoa não tem possibilidade para sair fora e conseguir trabalho, para comprar conduto para comer com funge. Como não tenho muitas possibilidades não posso falar nada. Isso que estou a querer dizer neste momento é que o sofrimento é demais."
Jimba Kuna é outro refugiado, pai de 7 filhos. Ele é um dos milhares de congoleses que não tem um lugar para domir.
"Nesse campo neste momento não tem condições. Eu não tenho lugar certo para dormir. Tenho uma mulher e com crianças mais não temos lugar certo para dormir. Estamos a receber comida, isso é verdade, mas só fuba de milho e mais feijão, não tem outro conduto. Não tem peixe, não tem açúcar, não tem chá, só nos dão fuba com feijão. Agora nem panela temos para cozinhar e estamos a pedir panelas nos vizinhos para conseguir cozinhar."Odia Rose, uma refugiada de 40 anos, diz que, de vez em quando, tem conseguido alguns trabalhos precários na cidade do Dundo, capital da província da Lunda Norte, perto dos centros de acolhimento.
"Cada dia eu tenho que chegar na cidade procurar trabalho para conseguir um dinheiro para comprar pelos menos açúcar e para comprar conduto, porque o conduto que nós estamos a receber aqui é só feijão."
ACNUR necessita de ajuda
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) está atento a esta situação e pede ajuda. A agência da ONU precisa de cerca de 65 milhões de dólares para cobrir as carências. Por enquanto, Margarida Loureiro, oficial de protecção da ACNUR, diz que os trabalhadores humanitários vão fazendo o que podem."Nós tivemos um grande fluxo e portanto não existiam ainda tendas e casas para toda gente, mas essa situação já está ser resolvida, creio que pode ter visto que temos hangares novos que dá para recepcionar muita gente, portanto, todas as chegadas recebem esteiras e recebem cobertores, esses bens básicos são entregues que são materiais de cozinha e alimentação. A alimentação é "seting" de emergência é aquela que podemos oferecer."
Mas os desafios são enormes – diz Margarida Loureiro, do ACNUR.
"Os desafios são muitos. A boa vontade é muita por parte das autoridades e dos próprios locais de Lunda Norte mas como sabe a Lunda Norte enfrenta também diversos desafios. É muito complicado arranjar em Lunda Norte tudo e a todo tempo."