Situação na África do Leste permanece alarmante
23 de julho de 2012Na altura, o campo de refugiados de Dadaab, no Quénia rebentava pelas costuras. O colapso parecia iminente. “Hoje, um ano mais tarde, podemos dizer que a situação melhorou em algumas partes da África do Leste.
Entretanto choveu e foram feitas algumas colheitas”, diz Sabine Wilke, da organização não-governamental de assistência, Care. A Cruz Vermelha Alemã confirma esta avaliação. Mas em entrevista com a DW, a sua representante no Quénia, Stephanie Grutzka, ressalva que a situação permanece crítica: “Noutras regiões regista-se um recrudescer do conflito, sobretudo na Somália e por causa do conflito entre o Sudão e o Sudão do Sul.
Sabine Wilke, da Care, refere que, no último ano, chegaram a Dadaab 130 000 somalis, que esgotaram as capacidades do campo de refugiados. A falta de trabalho e de possibilidades de formação transformaram o campo num centro de recrutamento para bandos criminosos e extremistas, afirmam sete organizações internacionais de assistência num apelo recente para donativos.
Falta de segurança e ordem
No campo de refugiados, a ameaça constante, a discriminação e o abuso são moeda corrente para muitos dos seus habitantes. Mulheres e crianças arriscam-se a ser violadas quando saem à procura de madeira para cozinhar. Os postos de saúde estão mal equipados e não dão vazão ao enorme número de doentes. Há duas ambulâncias para 78 000 pessoas, afirmam as organizações. Que, de resto, são também vítimas das circunstâncias catastróficas, diz a porta-voz da Care, Sabine Wilke: “Os cooperantes estão expostos a cada vez mais ataques e raptos em Dadaab. Mas são também vítimas de pequenos explosivos”.
Em Junho, homens armados raptaram quatro cooperantes internacionais em Dadaab. Estes foram, entretanto, libertos, mas outros continuam reféns dos extremistas na Somália.
O dinheiro está a acabar
Com quase 500 000 pessoas, Dadaab é o maior campo de refugiados do mundo. Mas não há infra-estrutura para suportar tanta gente. As organizações de assistência adiantam que faltam cerca de vinte milhões de euros para adquirir equipamento básico urgente como tendas, água potável e medicamentos. Há ainda uma falta aguda de escolas. Das quase 170 000 crianças no campo, menos de um terço frequenta o ensino primário.
O campo de Dadaab situa-se no nordeste do Quénia a cerca de cem quilómetros da fronteira com a Somália. Desde o início dos anos noventa que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados mantém três campos nesta região. Mas o seu futuro é incerto, diz Sabine Wilke, da Care: “Não temos financiamento para outros vinte anos. Nem recursos humanos”.
A solução encontrada pela Care foi treinar refugiados para assumirem parcialmente o trabalho dos cooperantes. “Trata-se de uma boa maneira de garantir a segurança e restituir ás pessoas alguma auto-estima, dando-lhes uma tarefa importante a cumprir na sua própria cidade”, explica Wilke.
O campo de refugiados eterniza-se
Também Stephanie Grutyka não vê hipóteses de encerrar o campo. A representante da Cruz Vermelha Alemã em Nairobi diz que o problema é a situação em toda a região: “Tendo em conta a situação nos diversos países vizinhos, o Governo queniano não vai expulsar os refugiados à força. Falo, sobretudo, da Somália e do Sudão”.
Há três cenários possíveis na opinião das organizações internacionais de assistência, diz Sabine Wilke. Uma opção é fixar definitivamente os refugiados num país diferente. Há seis anos mais de dez mil refugiados somalis foram transferidos para a Tanzânia, onde obtiveram terras e hoje subsistem como pequenos agricultores. Teoricamente seria também possível a integração na sociedade queniana, ou o regresso à Somália pacificada, acrescenta Wilke: “Esta última solução seria a melhor para toda a gente. É aquela que todos queremos. Mas a realidade é outra e isto não acontecerá nos tempos mais próximos”, remata.
Autor: Gehrke, Mirjam
Edição: Cristina Krippahl/António Cascais