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Vítimas de raptos do Boko Haram contam a sua experiência

Thomas Mösch/Cristina Krippahl6 de agosto de 2015

Dar voz às vítimas do Boko Haram e interessar o resto do mundo pelo seu destino é, resumidamente, o objetivo de um arquivo online, criado pela ativista nigeriana Saratu Abiola.

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Foto: AFP/Getty Images

São cada vez mais frequentes notícias da Nigéria sobre a libertação de reféns do grupo fundamentalista islâmico Boko Haram pelo exército nacional. Mas, por detrás dos números, há pessoas, que, muitas vezes, têm que viver com as consequências do seu cativeiro sem ter a quem recorrer para aliviar o trauma causado pelas suas experiências.

Esta foi uma das razões que levaram a nigeriana Saratu Abiola a criar, em 2014, o 'Testimonial Archive Project', um arquivo online que permite às vítimas contarem aquilo pelo qual passaram. Na sua opinião, a cobertura jornalística dada ao conflito no nordeste da Nigéria contempla, sobretudo, a perspetiva política e a análise da motivação dos perpetradores. Raras vezes os meios de comunicação dão voz às vítimas.

Experiências que dizem respeito a todos

Este género de notícias, diz, não só é frustrante para quem foi vitimado pela violência do Boko Haram, mas acaba por ser também contraproducente, porque pode criar a ilusão de que este é meramente um problema político, sobretudo naqueles que vivem longe da área de crise: "Ao contarmos as histórias individuais todos os nigerianos compreenderão o que se passa no país e porque é que isso lhes diz respeito", diz Abiola, acrescentando: "Assim serão encorajados a exercer pressão sobre o Governo para que ele aja".

Nigeria Saratu Abiola Aktivistin EINSCHRÄNKUNG
A ativista nigeriana Saratu AbiolaFoto: DW/T. Mösch

O projeto coopera também com especialistas que investigam os resultados do terror, como violência contra mulheres, raptos e violações dos direitos humanos. E inclui outros atores do conflito, como membros das milícias civis que combatem o Boko Haram.

Uma página online com muitos utilizadores

Os relatos colocados na Internet têm muita procura, diz Abiola, que explica: "Muita gente consulta a página para saber o que se passa realmente no terreno. É sobretudo para estas pessoas que fizemos o site. Outras pretendem criar uma organização não governamental e procuram saber como podem ajudar". Há ainda investigadores de organizações dos direitos humanos e especialistas em segurança, assim como jornalistas, que incluem os relatos das vítimas nos seus próprios estudos e relatórios.

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Os refugiados nigerianos dentro e fora do país, como aqui nos Camarões, são, muitas vezes, abandonados à sua sorteFoto: AFP/Getty Images/R. Kaze

Saratu Abiola ri-se quando lhe perguntam se tem apoios para financiar o projeto. A iniciativa depende exclusivamente do empenho voluntário dos colaboradores. Até agora, todas as despesas foram pagas do seu bolso.

Os responsáveis na mira da crítica

Mas o site é a sua forma de contribuir para resolver o que diz ser uma enorme crise humanitária. E, neste contexto, não poupa críticas ao Governo: "Neste momento não há nenhuma entidade que coordene o fluxos de refugiados, determine quantos há em que estado federado, de onde vêm e que assistência recebem. Os Governos dos estados federados muitas vezes têm as mãos atadas. Mas também não estamos a ver que os Governos locais estejam a tomar medidas para solucionar a crise humanitária".

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