Semanário Angolense acaba na fogueira
A edição deste fim de semana do Semanário Angolense acabou numa fogueira. No sábado passado a Media Investe, empresa que detém o semanário, decidiu censurar a edição de 27 de Outubro, por este ter publicado quase na íntegra, o discurso do líder da oposição, Isaías Samakuva.
Nesta intervenção criticava-se o facto do presidente José Eduardo dos Santos não ter feito o discurso sobre o estado da nação na abertura da terceira Legislatura, como prevê a Constituição. Em vez disso, o presidente angolano mandou distribuir as cópias do seu discurso aos deputados, uma atitude bastante criticada no país.
A Media Investe é controlada por oficiais de alta patente do SINSE, os serviços secretos angolanos.
A DW ouviu acerca deste caso o defensor dos direitos humanos angolano Rafael Marques.
DW: Trata-se mais um caso de censura?
Rafael Marques: Sim é mais uma forma de controlo da informação que circula. O presidente da UNITA fez um discurso bastante contundente que teve grande aceitação na sociedade pelas idéias que expôs e por ter sido uma réplica à falta de discurso sobre o estado da nação. Daí a necessidade de ter que garantir que o discurso de Isaías Samakuva não tenha ampla circulação, ele está a circular apenas na internet e como é do conhecimento geral Luanda e o país sofrem uma grave crise de abastecimento de eletricidade. Logo muito poucas pessoas têm acesso à internet e os jornais são mais lidos, porque um jornal pode ser lido por várias pessoas. Agora também os jornais privados são controlados pelo aparelho de segurança e neste caso houve uma falha dos censores, mas mesmo assim ainda foram a tempo de ir buscar os jornais da impressão diretamente para a queima.
DW: Como avalia o constante silêncio do presidente angolano?
RM: O presidente não fala muito porque não consegue justificar os seus atos que se mostram cada vez mais erráticos, como o facto de ter constituído o fundo soberano sem respaldo legal e ter colocado o filho à frente do fundo num claro acto de nepotismo e de desafio ao bom senso.
DW: Esta retirada do Semanário Angolense é mais uma prova que José Eduardo dos Santos não respeita a liberdade de expressão?
RM: Há década que o presidente angolano demonstra o seu total desrespeito pelo povo angolano. Quanto mais corrupto se manifesta, quanto mais bens públicos desvia para a sua família, e quanto mais lugares no aparelho de Estado atribui a familiares, mais sente a necessidade de mostrar desprezo pela sociedade para que não seja criticado. Veja nomeou a sobrinha como diretora do seu gabinete, outro sobrinho para a direção do Centro de Impressa. Este é praticamente um governo "Dos Santos".
Autora: Nádia Issufo
Edição; Helena Ferro de Gouveia / António Rocha