Sem areia, praias de sonho em África viram pesadelo
15 de fevereiro de 2017Zanzibar, um estado semi-autónomo da Tanzânia, dependente economicamente de turistas que vêm à procura das suas famosas praias. Em conversa com a DW, o ministro das Matérias Primas, Hamad Rashid Mohammed, lança o alerta: "Zanzibar está a ficar sem areia”.
O motivo para este prognóstico sombrio é a extração desenfreada de areia para projetos de construção civil. As estatísticas oficiais mostram que no período de 2005 a 2015 foram extraídas quase três milhões de toneladas nas duas ilhas que constituem Zanzibar. "Estamos a falar apenas da extração licenciada. A extração ilegal pode facilmente atingir o dobro”, diz o ministro Mohammed.
Segundo estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (UNEP), anualmente são extraídas 40 mil milhões de toneladas de areias em todo o mundo. A areia é uma matéria-prima indispensável para muitos apetrechos da vida moderna, como telefones móveis e microchips. É ainda fundamental para a construção de casas e estradas. A indústria do cimento precisa de 30 milhões de toneladas todos os anos. Mas, tal como o carvão, o gás natural e o petróleo, a areia não é um recurso renovável e não se regenera com a mesma velocidade a que é extraída.
Cabo Verde toma medidas
Cabo Verde já reagiu: em Fevereiro, o Governo do arquipélago decretou a suspensão imediata da extração de areias do país. Até que sejam implementadas medidas que reforcem a fiscalização, o controlo e a promoção de soluções alternativas, não poderá ser extraída mais areia das praias cabo-verdianas.
No entanto, num país onde a taxa de desemprego é muito elevada, a tentação de ganhar algum dinheiro rapidamente, mesmo que de forma ilegal, é grande. O roubo de areia é frequente. As consequências são devastadoras. Há praias que já só consistem de pedregulhos e lixo. A areia inexistente deixou de travar a maré alta. A água salgada entra pela terra dentro e destrói colheitas, plantas e casas de habitação.
Em 2002, o Governo proibiu a extração de areia na cidade de Pedra Badejo, na ilha de Santiago. Aqui, a areia negra é protegida pelo exército. Mas, empurrados pela pobreza, os habitantes partem para o mar alto com baldes para extrair a preciosa matéria-prima.
A extração também é ilegal no Gana, mas a subida das temperaturas levou os peixes a migrar para outras águas e a erosão da costa elimina cada vez mais solo arável. Muitas pessoas já não conseguem viver da pesca e da agricultura. Por isso, extraem areia, agravando o problema.
Castelos de areia
A extração clandestina no Quénia já chegou aos rios de Masaani, Kiungwani, Mbitini e Kwa Nditi. Mas a exploração deste recurso acaba por destruir a base para a sobrevivência local. A falta de areia faz secar os rios, retirando a água aos habitantes e ao gado.
A areia africana também é exportada. No Dubai, o aterro para construir a ilha artificial "The Palm Jumeirah” necessitou de 200 milhões de metros cúbicos de areia e pedra. Uma parte da areia usada na ampliação do território nacional veio das praias da África.
O ministro das Matérias Primas em Zanzibar, Hamad Rashid Mohammed, diz: "Temos que travar a velocidade da extração e do consumo para proteger a nossa agricultura e as nossas aldeias”. O político exige o desenvolvimento de materiais alternativos e pede que, para já, sejam encontradas soluções temporárias. As licenças de exploração têm que ser repensadas e melhor controladas, conclui Mohammed.