SADC vai deixar Cabo Delgado devido a limitações financeiras
23 de março de 2024"A SAMIM está a enfrentar alguns problemas financeiros e nós (Moçambique) também temos de tomar conta das nossas tropas e teríamos dificuldades em pagar pela SAMIM. Os países não estão a conseguir colocar o dinheiro necessário (...)", declarou este sábado (23.03) à emissora pública de televisão moçambicana a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, sem avançar datas específicas.
A chefe da diplomacia moçambicana falava momentos após uma reunião entre os Presidentes moçambicano, Filipe Nyusi, e zambiano, Hakainde Hichilema, que preside o órgão sobre Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e Segurança da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), à margem da cimeira da organização que decorre em Lusaca para debater a defesa e segurança regionais.
Em agosto de 2023, a SADC aprovou a prorrogação da missão da SAMIM, que está em Moçambique desde meados de 2021, por mais 12 meses, até julho de 2024, prevendo um plano de retirada progressiva das forças dos oito países da região que a integram.
Limitações orçamentais
Segundo a chefe da diplomacia moçambicana, face às limitações orçamentais, a SADC entendeu que a situação em Moçambique é consideravelmente estável comparada à escalada de violência no leste da República Democrática do Congo (RDC), onde, há muito, mais de 120 grupos armados lutam por uma parte do ouro e de outros recursos naturais da região, enquanto efetuam assassínios em massa.
O resultado é uma das maiores crises humanitárias do mundo, com cerca de 7 milhões de pessoas deslocadas, muitas delas fora do alcance da ajuda.
"Os problemas em África são muitos e, neste momento, estamos com duas missões: RDCongo e Moçambique. E a SADC entendeu que, para Moçambique, caso outros países continuem a apoiar-nos com material, incluindo o letal, nós podemos efetivamente debelar o terrorismo", acrescentou Verónica Macamo.
Missão SAMIM
A missão SAMIM compreende tropas de oito países contribuintes da SADC, nomeadamente Angola, Botsuana, República Democrática do Congo, Lesoto, Maláui, África do Sul, República Unida da Tanzânia e Zâmbia, "trabalhando em colaboração com as Forças Armadas de Defesa de Moçambique e outras tropas destacadas para Cabo Delgado".
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência, que desde dezembro voltou a recrudescer com vários ataques à populações e forças armadas, levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio primeiro do Ruanda, com mais de 2.000 militares, e da SADC, libertando distritos junto aos projetos de gás.