RCA: Rússia nega envio de tropas para o país
21 de dezembro de 2020O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Mikhaïl Bogdanov, citado pela agência de notícias Interfax afirmou: "Não enviaremos tropas, respeitamos todas as exigências das resoluções das Nações Unidas [ONU]".
A posição deste alto representante russo contraria as declarações do porta-voz do Governo da República Centro-Africana (RCA), Ange Maxime Kazagui, que anunciou a mobilização para o país de "várias centenas" de soldados russos no quadro do acordo de cooperação bilateral.
"A Rússia enviou várias centenas de homens das forças regulares e equipamento pesado" como parte de um acordo de cooperação bilateral, disse Ange Maxime Kazagui, porta-voz do Governo da RCA, sem especificar o número exato ou data de chegada.
Apesar de não confirmar o envio de militares, o Kremlin admitiu anteriormente estar "seriamente preocupado" com a crise na República Centro-Africana.
"As informações vindas deste país suscitam sérias preocupações", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, aos jornalistas, escusando-se, no entanto, a comentar a alegada presença na República Centro-Africana de soldados russos.
As ameaças dos grupos armados
Os líderes dos três principais grupos armados, que ocupam grande parte do território da RCA e conduzem uma ofensiva no norte e oeste do país, anunciaram na sexta-feira (18.12) à noite a sua fusão e criação de uma coligação.
Os três grupos ameaçaram atacar se detetarem que o Presidente está a organizar fraudes, como já o acusam, para conseguir um segundo mandato.
Segundo fontes humanitárias e da ONU, os grupos armados apoderaram-se de várias localidades situadas nos eixos que servem a capital e ameaçaram bloquear a cidade.
No sábado (19.12), o Governo da RCA acusou o ex-Presidente François Bozizé de uma "tentativa de golpe de Estado. O partido de François Bozizé negou, no domingo (20.12), qualquer tentativa de golpe.
No mesmo dia, o porta-voz da Missão das Nações Unidas na RCA (Minusca), Vladimir Monteiro, disse que os rebeldes foram bloqueados ou repelidos em várias localidades.
A França, a Rússia, os Estados Unidos, a União Europeia e o Banco Mundial pediram, no domingo (20.12), a François Bozizé e aos grupos armados que depusessem as armas.
Oportunidade para consolidar democracia?
François Bozizé, que liderou o país entre 2003 e 2013 e regressou em dezembro de 2019, após quase sete anos de exílio, era apontado como o principal adversário ao atual chefe de Estado, eleito em 2016 e que procura um segundo mandato.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube de François Bozizé por grupos armados e, desde então, tem sido palco de confrontos comunitários, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes do país a abandonarem as suas casas.
O Governo controla um quinto do território, sendo o resto dividido por mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
Um acordo de paz foi assinado em Cartum, capital do Sudão, em fevereiro de 2019 pelo Governo e por 14 grupos armados, e um mês mais tarde as partes entenderam-se sobre um Governo inclusivo, no âmbito do processo de paz.
Na antecipação das eleições, a missão das Nações Unidas na RCA apontou que estas são "uma oportunidade para consolidar o processo democrático".