Rádios comunitárias têm papel crucial na cobertura eleitoral em Moçambique
17 de setembro de 2014Centenas de colaboradores das rádios comunitárias estão no terreno, um pouco por todo o país para fazerem uma cobertura direta da campanha para as eleições gerais moçambicanas de 15 de outubro.
Regra geral, as rádios têm um Diário de Campanha que monitoriza as atividades de caça ao voto, principalmente nas zonas rurais.
Segundo Naldo Chivane, oficial de comunicação da FORCOM, Fórum das Rádios Comunitárias de Moçambique, este jornalismo de proximidade tem permitido descobrir alguns casos: “Tivemos um caso levantado pela rádio comunitária de Catandica sobre fundos utilizados pelo Governo do distrito de Catandica para financiar ações da campanha do partido FRELIMO ."
Ainda de acordo com Naldo Chivane "foi produzida umainformação com evidências, o cheque que foi passado em nome da FRELIMO para a campanha do partido."
Ameaças e intimidações
O oficial da FORCOM revelou ainda outras irregularidades como "situações relacionadas com o uso de bens do Estado ,nomeadamente viaturas para fins propagandistas. Por outro lado, estão a ser reportados alguns atos de violência protagonizados pelos partidos políticos, mas com maior incidência por parte do partido no poder e já tivemos alguns casos de detenção."
Pela sua proximidade e capacidade de informar as comunidades rurais em Moçambique, são frequentes situações de ameaças e intimidações aos colaboradores das rádios comunitárias, afirma por seu turno Fernando Lima.
O diretor do semanário moçambicano Savana dirigiu, recentemente, uma formação de capacitação dos colaboradores de rádios comunitárias para a cobertura da campanha eleitoral.
Fernando Lima considera que “as rádios comunitárias em Moçambique são talvez os órgãos de informação que estão mais reféns do poder político."
"Sofrem pressões, ameaças muito grandes, nomeadamente dos administradores distritais e dos primeiros secretários do partido no poder. É um problema nacional”, concluiu.
Encerramento suspeito
Recentemente, em plena campanha eleitoral, uma rádio comunitária na província de Inhambane, no sul, a Rádio Progresso, recebeu ordem de encerramento, alegadamente devido à interferência do seu sinal com as comunicações da torre de controlo do aeroporto local.
Naldo Chivane, da FORCOM, acha no mínimo “curioso” este encerramento, uma vez que em 12 anos de funcionamento da Rádio Progresso nunca tinha havido registo de interferências: “Mas curiosamente, pela constatação feita, o raio de abrangência da rádio não atinge a zona das torres e a rádio está a funcionar de forma limitada. Achamos isto um facto curioso."
O oficial recorda que "é uma rádio com um passado recente não muito positivo em termos de relação com as estruturas do poder local" e revela: "Já houve alguma “guerra” porque nas eleições autárquicas a rádio foi muito imparcial e isso não foi muito do bom agrado do poder local, segundo o que relata a equipa da rádio.”
Este é, para já, o principal motivo de desagrado do Fórum das Rádios Comunitárias de Moçambique desde o início da campanha eleitoral.
Durante o período de eleições, as 46 rádios comunitárias agrupadas no FORCOM trabalham em colaboração com o Centro de Integridade Pública de Moçambique (CIP) e com a Liga dos Direitos Humanos.
E assim, apesar das suas limitações técnicas e humanas, as rádios comunitárias desempenham um papel “estratégico” a nível nacional, avalia o jornalista e editor moçambicano Fernando Lima: “O contributo de uma pessoa numa localidade isolada é muito valioso, porque sem aquele colaborador que reportou eventualmente uma ilegalidade eleitoral, e isto somado a talvez centenas de colaboradores destas pequenas rádios, dá um panorama bastante abrangente."
O diretor do semanário Savana afirma por outro lado que esta informação serve para, em última análise, abastecer os órgãos de informação de cobertura nacional.”