Ruanda: Presidente Kagame sob pressão?
11 de março de 2015De acordo com a atual Constituição do Ruanda, o Presidente Paul Kagame já não pode concorrer às eleições em 2017. Mas membros influentes do partido no poder, a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), falam publicamente numa alteração constitucional.
Alertam também que o país pode mergulhar no caos e na violência se Kagame deixar o poder. Ao que tudo indica, o partido no poder também já disse aos meios de comunicação social para informarem sobre o referendo.
O atual Presidente vê o seu legado em risco. Durante os seus 15 anos no poder, transformou o país, traumatizado pelo genocídio, num modelo económico em África. Um país com taxas de crescimento médio de sete por cento, modelos de formação para jovens e um sistema de saúde que funciona, entre outras conquistas.
Por isso, o especialista Phil Clark, da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, não acredita que Paul Kagame queria agora abandonar o poder. "Ele vê-se a si próprio como o principal motivo do fim do genocídio em 1994 e também como responsável pela maneira como o Ruanda se conseguiu recuperar. E ele está muito relutante em passar o legado do pós-genocídio a um sucessor."
Sob pressão
Além disso, aumentam também os casos de pessoas próximas de Paul Kagame que são presas ou morrem em circunstâncias misteriosas.
Como o popular cantor Kizito Mihigo, amigo de longa data da família do Presidente. No final de fevereiro, o músico foi condenado a dez anos de prisão por planear o derrube do Governo e o assassinato de membros do Executivo.
Em conversas com membros do partido da oposição no exílio Congresso Nacional do Ruanda (RNC), Mihigo falou sobre a mudança de regime.
Incidentes como este revelam que Kagame se sente sob pressão, afirma o especialista Phil Clark. "Ele sente-se particularmente pressionado dentro do seu próprio partido e por pessoas muito próximas dele. E a acusação mais comum contra os seus críticos é que estão a colaborar com a diáspora, em particular com o RNC na África do Sul", defende.
Repressão de dissidentes
A repressão contra os dissidentes continua. As principais vozes da oposição estão no exílio ou na prisão. Outros morreram.
Um dos que teve de deixar o Ruanda há dez anos foi o antigo presidente do Parlamento Joseph Sebarenzi, que vive atualmente nos Estados Unidos da América (EUA).
"Com o aproximar das eleições de 2017, é muito provável que o Presidente Kagame queira enviar a seguinte mensagem: todos os que se voltarem contra ele terão problemas", disse Sebarenzi em entrevista à DW África.