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Reviravolta: Wagner apela a rebelião, Putin promete retaliar

gcs | rl | DW (Deutsche Welle) | Lusa
24 de junho de 2023

Grupo Wagner anunciou rebelião contra o comando militar em Moscovo e diz que já controla instalações militares em Rostov. Presidente russo garante que "traidores" serão punidos. Ucrânia, NATO e UE já reagiram.

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Líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin
Líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny PrigozhinFoto: Prigozhin Press Service/AP Photo/picture alliance

O chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, anunciou ter entrado em território russo e controlar as instalações militares e o aeródromo de Rostov, no sul do país.

Prigozhin disse ter 25.000 soldados às suas ordens, prontos para morrer, e apelou aos russos que se juntem a eles numa "marcha pela justiça".

O líder da Wagner acusa o Exército russo de atacar acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas". O Ministério da Defesa da Rússia nega as acusações.

O Presidente russo, Vladimir Putin, diz que a rebelião promovida por Prigozhin é "traição", mas Yevgeny Prigozhin nega a acusação, chamando "patriotas" aos seus combatentes.

Mercenários do grupo Wagner em Rostov
Mercenários do grupo Wagner em RostovFoto: Erik Romanenko/TASS/dpa/picture alliance

"No que diz respeito à traição à pátria, o Presidente enganou-se profundamente. Somos patriotas. Lutámos e lutamos (...) e ninguém pretende entregar-se por exigência do Presidente, do Serviço de Segurança Federal ou de quem quer que seja", afirma Prigozhin num novo áudio publicado no seu canal do Telegram, no qual garante que os seus combatentes "não se renderão", pois não querem que "o país continue a viver imersos na corrupção, na mentira e na burocracia". 

"Quando combatemos em África, disseram que precisávamos de África e depressa a abandonaram porque roubaram todo o dinheiro destinado às ajudas", disse. 

O grupo russo Wagner é um dos atores mais influentes em África. Milhares de mercenários estão ativos em países como Sudão, República Centro-Africana (RCA), Líbia e Mali.

O que está a Rússia a fazer no Sahel?

Traidores serão julgados, diz Putin

Nas primeiras declarações, na televisão pública, após o sucedido, esta manhã, Vladimir Putin garantiu que "aquele que organizou e preparou a rebelião militar traiu a Rússia e vai responder por isso".

Putin prometeu "defender o povo" e o país.

"As nossas ações para defender a pátria desta ameaça serão muito duras e os responsáveis serão levados à justiça", assegurou. De acordo com o chefe de Estado russo, a Rússia está a travar "a batalha mais difícil pelo seu futuro".

Vladimir Putin acrescentou que não vai permitir que o país mergulhe numa "guerra civil".

A capital Moscovo reforçou a segurança, ativando o "regime de operações antiterroristas". O regime foi igualmente introduzido na região de Voronezh, na fronteira com a Ucrânia, para "prevenir eventuais atentados".

A Rússia bloqueou mais de 300 quilómetros da estrada entre Rostov e Moscovo, através da cidade de Voronezh, para impedir a chegada dos mercenários do grupo Wagner à capital russa, informou hoje o governador da região. 

Russland | TV Ansprache Putin
Numa declaração à nação, na televisão pública, Vladimir Putin Putin disse que a rebelião do grupo Wagner é um "ameaça mortal" ao Estado russo e garantiu que não vai permitir uma "guerra civil" no paísFoto: Pavel Bednyakov/SNA/IMAGO

"Neste momento, o tráfego ao longo da estrada M-40, na região de Rostov, está encerrada entre os quilómetros 464 ao 777", declarou Alexandr Gusev, pedindo "solenemente aos residentes que se abstenham de viajar nas estradas regionais e locais".

Ataque "sem precedentes"

Segundo o correspondente da DW, Roman Goncharenko, os relatos de um motim levado a cabo pelo Grupo Wagner na Rússia podem ser um ponto de viragem.

"Nunca vimos nada assim na história recente da Rússia", disse.

"Assumir o controlo de Rostov, ou pelo menos de parte de Rostov, onde se encontra o quartel-general do exército russo, é uma ação sem precedentes e mostra a fraqueza das forças armadas russas", acrescentou.

Ao início da manhã deste sábado, o Ministério da Defesa britânico constatou que o grupo paramilitar Wagner já tem o controlo da cidade de Rostov, está a avançar dali para o norte do país, "através da região de Voronezh" e que "é quase certo que tem Moscovo como alvo", numa "ameaça à integridado do Estado russo". 

"Nas próximas horas, a lealdade das forças de segurança russas, e especialmente da Guarda Nacional Russa, será fundamental para o desenvolvimento da crise - o desafio mais importante para o Estado russo nos últimos tempos", concluiu o Ministério da Defesa na sua rede social 'Twitter'. 

Ucrânia já reagiu

Volodymyr Zelensky diz que tomada da cidade de Rostov pelo grupo paramilitar Wagner é um exemplo da autodestruição da Rússia, resultante da sua decisão de invadir o território ucraniano.

"Quem escolhe o caminho do mal destrói-se a si próprio", afirmou Zelensky na sua conta do Twitter.

"Há muito que a Rússia utiliza a propaganda para mascarar a fraqueza e a estupidez do seu Governo", disse.

Numa declaração mais cedo, esta manhã, um assessor do Presidente ucraniano já havia afirmado que a rebelião "está apenas a começar".

"A divisão entre as elites é muito óbvia. Chegar a um acordo e fingir que está tudo resolvido não vai funcionar", disse Mykhailo Podoliak, assessor de Volodymyr Zelensky, na rede social Twitter.

Comunidade internacional atenta

Oana Lungescu, porta-voz da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) disse também, este sábado, que a organização está a "monitorizar a situação". Já a Comissão Europeia defende que a rebelião do grupo paramilitar Wagner é um "assunto interno" da Rússia, mas acrescenta que está também a acompanhar o desenrolar da situação. 

Russland | Wagner-Söldner in Rostow am Don
Rússia bloqueou mais de 300 quilómetros da estrada entre Rostov e MoscovoFoto: REUTERS

O mesmo diz o presidente do Conselho Europeu. Numa mensagem na sua rede social Twitter, Charles Michel anunciou que está "em contacto com os líderes europeus e parceiros do G7", mas considerou que a rebelião do grupo paramilitar Wagner "é claramente um assunto interno" da Rússia e que o apoio dos 27 "à Ucrânia e a Volodymyr Zelensky é inabalável". 

"A situação é grave"

Também em reação ao sucedido, os governo alemão, francês e italiano disseram estar a "seguir atentamente os acontecimentos".

O executivo da Letónia está igualmente atento à situação e a adotar medidas adicionais de segurança, disse o ministro de Negócios Estrangeiros, Edgars Rinkevics, recentemente designado presidente do país, numa publicação no Twitter. 

Outro país vizinho da Rússia, a Polónia, está também a monitorizar "de forma intensa" a sua fronteira oriental, segundo indicou o presidente, Andrzej Duda, também da mesma rede social.

Os governos da Finlândia e da Suécia também expressaram a sua preocupação, com o primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo, a defender que a rebelião reflete a divisão nas forças armadas russas. 

"A situação é grave", apontou, por seu turno, o ministro dos Negócios Estrangeiros sueco, Tobias Billström, numa publicação no Twitter.