Resultados finais das eleições em Angola poderão ser conhecidos no sábado
7 de setembro de 2012A porta-voz da CNE, Irlanda Salongue, disse esta quinta-feira (06.09) à DW África que esses resultados definitivos serão provavelmente divulgados no sábado (08.09) e que a demora na divulgação deve-se precisamente ao facto de se tratarem de resultados definitivos.
A CNE está, segundo Salongue, a trabalhar "com muito respeito pelo detalhe“. Entretanto, vários partidos da oposição e sobretudo a UNITA [antigo movimento de libertação e principal formação oposicionista], queixam-se de que os números até agora divulagados pela CNE não correspondem à realidade e que foram muitas as irregularidades no processo e no ato eleitorais. Os partidos da oposição por isso, continuam a fazer a sua contagem paralela, e ameaçam não reconhecer os resultados oficiais da CNE.
O enviado da DW África a Angola, António Cascais, foi mais uma vez ao terreno para investigar as supostas irregularidades. No município luandino de Viana, encontrou-se com Mariano Kaiombe Agostinho, formador e delegado de lista da UNITA, que não chegou a executar a sua tarefa de fiscalizador nem de votante, porque foi preso no dia 30.08, vésperas das eleições, e só foi solto na quarta-feira (05.09).
"Identificamo-nos como homens do partido UNITA. Viemos com a proposta de receber as nossas credenciais", relatou Agostinho à DW. "O segundo comandante, logo que ouviu que somos da UNITA, mandou deter-nos e levar-nos, de uma forma cruel, num carro de patrulheiros até a esquadra", disse.
Muitas irregularidades nas eleições em Angola
Segundo Kaiombe Agostinho, este caso não foi isolado: "A princípio éramos duas pessoas detidas, mas depois de estarmos ali [na prisão] apareceram mais pessoas. Encontramos 17 pessoas que se identificaram como elementos da UNITA e que também foram detidos por protestarem contra o fato de não terem sido credenciados pela CNE", constatou.
Os homens da UNITA estiveram seis dias presos, acusados de vandalismo, mas sem acusação formal. Agora, de novo em liberdade, queixam-se de maus tratos sofridos durante a detenção: "Fomos tratados de forma desumana, porque ficamos numa cela de três metros quadrados, e ali estavam 73 pessoas. Onde as pessoas dormem é onde elas defecam, onde fazem xixi...", conta Agostinho.
Serrote Morais de Máquina foi outro dos homens da UNITA presos no município de Viana no dia das eleições: "É de lamentar. Nós não fizemos nada mesmo", defendeu-se o opositor. "Quando chegamos na cela, depois de duas horas de sair o piquete, o que vimos naquela cela... nem o inferno é. Nem o inferno é", indignou-se.
UNITA aguarda resultados da CNE para poder posicionar-se
A DW África contactou também o secretário municipal da UNITA em Viana, Juliano Pedro Tcháli, que, apesar dos seus homens já estarem em liberdade, continua indignado com o que aconteceu: "Para além dos delegados que não cobriram as assembleias, houve milhares de eleitores que não votaram, voltaram para casa todos frustrados", relata.
"Este não é um caso isolado, falou-se porque eles reclamaram. Tinham de cobrir as assembleias, não só lhes retiram os votos como foram presos, mais de 450 e tal näo cobriram as assembleias. Os resultados da CNE não são fiáveis, não refletem a realidade do escrutínio", afirma Tcháli.
O porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, contactado pela DW África, afirmou que o seu partido aguarda a divulgacäo dos resultados definitivos por parte da CNE. Enquanto isso, o chamado "partido do galo negro" vai fazendo a sua própria contagem. Só depois é que o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, irá fazer um pronunciamento oficial, se e por que motivo a UNITA vai contestar os resultados oficiais.
Autor: António Cascais (em Luanda)
Edição: António Rocha / Renate Krieger