Resultados "a conta-gotas" aumentam ceticismo da população
13 de outubro de 2024O Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) exigiu, este domingo (13.10),a conclusão urgente do processo de apuramento, e a divulgação dos resultados das eleições de quarta-feira, respeitando a vontade popular. Em comunicado, a organização não-governamental escreve que, "quatro dias depois da votação, os resultados das eleições de 9 de outubro estão a sair a conta-gotas e sem transparência".
De acordo com a legislação eleitoral moçambicana, na noite do dia da votação para as eleições gerais, quarta-feira, foi feito o apuramento dos resultados ao nível das mesas, seguindo-se um período de até três dias para o apuramento oficial ao nível dos distritos e até cinco dias, após o dia da votação, para o apuramento provincial.
No entanto, diz o CDD, estes prazos não estão a ser respeitados em todos os distritos.
"Ontem, sábado, 12 de outubro, nem todos os distritos tinham apresentado os resultados intermédios, conforme manda o artigo 129 da Lei Eleitoral", lê-se no comunicado.
Para a organização, "a demora na apresentação dos resultados pode dar lugar à manipulação para beneficiar a FRELIMO e a RENAMO na sua agenda de se manterem os dois partidos políticos relevantes no cenário político nacional, em clara afronta à vontade popular".
FRELIMO vence em Cabo Delgado e cidade de Maputo
Entretanto, as comissões provinciais de eleições da cidade de Maputo e Cabo Delgado divulgaram, esta tarde, os seus resultados.
Em conferência de imprensa, esta tarde, na capital moçambicana, Ana Chemane, presidente da da Comissão Provincial de Eleições da cidade de Maputo, fez saber que o candidato do partido no poder, FRELIMO, Daniel Chapo foi o vencedor das presidenciais com 53,68% dos votos.
Seguiu-se Venâncio Mondlane, apoiado pelo extraparlamentar PODEMOS, com 33,84%; Ossumo Momade, apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), com 9,62% e Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), com 2,86% dos votos.
Em Cabo Delgado, e de acordo com Júlio Mussa, presidente da Comissão Provincial de Eleições, Daniel Chapo venceu o total dos 17 distritos com 281.507 votos (65,81%), seguido por Venâncio Mondlane com 96.843 votos (22,64%). Em terceiro lugar ficou Ossufo Momade com 32.331 votos (7,56%), e por último Lutero Simango com 17.076 votos (3,99%).
Demora inquieta eleitores
Em entrevista à DW, também o analista político Jaime Guiliche afirma que "ao haver alguma demora na divulgação dos resultados, ainda que eventualmente não exista nenhuma manipulação, o ceticismo que se desenvolve no seio da sociedade é muito grande".
Este domingo, a maior central sindical de Moçambique notou também que o país "está em suspenso e com ansiedade" à espera dos resultados eleitorais.
A lentidão verificada na contagem de votos já havia sido, na sexta-feira, uma das críticas deixadas aos órgãos eleitorais de Moçambique pelas missões de observação eleitoral da CPLP, da União Europeia e do Instituto Republicano Internacional.
Nas redes sociais, várias organizações da sociedade civil que estão a acompanhar a contagem de votos, algumas até a fazer uma contagem paralela, vão divulgando os resultados apurados.
Por exemplo, a Plataforma Decide divulgou, este sábado, na sua página da rede social X, os resultados apurados na África do Sul.
Também a Sala da Paz, grupo de organizações de observadores eleitorais, tem estado a partilhar na sua página do Facebook os resultados que vão sendo divulgados pelos órgãos eleitorais.
As redes sociais têm também estado a ser "palco" para vários atores conhecidos da sociedade civil. Alguns, como é o caso de Basílio Muhate, membro da FRELIMO, aproveitam estas plataformas para mostrar confiança nos candidatos que apoiam.
Outros, como é exemplo Fátima Mimbire, cabeça-de-lista do MDM à cidade de Maputo, utilizam-nas para deixar críticas ao sistema político do país.
Reação dos candidatos
À espera também dos resultados oficiais, os candidatos presidenciais têm adotados posturas diferentes.
Venâncio Mondlane, o candidato apoiado pelo PODEMOS, autoproclamou-se vencedor das eleições gerais logo no dia seguinte à votação. O que, na opinião de um analista ouvido pela DW, pode trazer consequências ao país.
Já o candidato no partido no poder FRELIMO, Daniel Chapo, apelou, na sexta-feira, à calma até ao anúncio dos resultados pelos órgãos eleitorais.
Ossufo Momade, o candidato presidencial da RENAMO, e apelidado já por muitos como o grande perdedor das eleições, convocou uma conferência de imprensa para a tarde deste sábado, mas que acabou por adiar.
Por último, Lutero Simango, candidato do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar, está em silêncio desde o dia 9 de outubro.