Repressão policial: Nyusi exige punição dos "agitadores"
23 de março de 2023O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, reagiu esta quinta-feira (23.03) aos episódios de violência policial ocorridos no último sábado em marchas em homenagem ao 'rapper' Azagaia, um pouco por todo o país. As marchas foram reprimidas pela Polícia da República de Moçambique (PRM), que recorreram à força e a gás lacrimogéneo.
Nyusi, que falava durante uma cerimónia de graduação na Academia de Ciências Policiais de Moçambique, exigiu um "punição exemplar dos agitadores" entre os manifestantes.
Segundo avança o jornal O País, o chefe de Estado reconheceu o direito à manifestação e à liberdade de expressão, mas sublinhou que perante informações de que existiam pessoas que se queriam aproveitar da situação para cumprir "agendas concorrentes" e criar desordem, a PRM foi obrigada a agir, o que culminou com o uso "desproporcional" da força.
Averiguações à ação policial
O Presidente moçambicano anunciou ainda averiguações à ação policial das marchas e à identidade de quem queria atingir "os seus intentos" com a homenagem a Azagaia.
“Orientámos o Ministério do Interior para que proceda a uma averiguação das razões que levaram a Polícia da República de Moçambique a adotar uma postura de confronto físico com os jovens e, igualmente, identificar aqueles que procuraram aproveitar-se da virtude individual do jovem ‘rapper’ Azagaia para atingir os seus intentos", declarou.
Segundo Nyusi, os serviços de informação da polícia estavam na posse de informações que mostravam haver "elementos estranhos" e que queriam aproveitar-se dos eventos para criar distúrbios e violência, mas isso não justifica "violência indiscriminada".
"Avaliamos positivamente o trabalho de recolha de informação [pela polícia] e saudamos a necessidade de prevenir a desordem pública no nosso país, contudo, advertimos para que a atuação das forças policiais não se traduza em violência indiscriminada contra civis ou jovens inocentes", disse.
"Sobre esta informação, há vídeos produzidos e difundidos pelos próprios a incitar à violência da camada juvenil, que não politizou o pedido de manifestação, feito com o conhecimento das autoridades autárquicas", observou ainda Nyusi, que ressalvou: "Mesmo havendo infiltrados no seio destes jovens, o trabalho da polícia deve ser de isolar este grupo de gente mal-intencionada e responsabilizá-la de forma exemplar".
Desordem pública
A polícia moçambicana justificou a repressão às marchas em homenagem a Azagaia alegando que os manifestantes pretendiam provocar desordem pública. Em conferência de imprensa, na terça-feira (21.03), Fernando Tsucana, vice-comandante da PRM, disse que houve "desobediência às autoridades policiais" como injúrias, arremesso de objetos, confrontação física com agentes da polícia e, "em alguns casos, tentativa de apossamento de armas de fogo".
A PRM acusou ainda vários políticos e ativistas de se aproveitarem da morte de Azagaia para incitar distúrbios.
Entre os nomes citados pela PRM estava o do edil de Quelimane, Manuel de Araújo. Em declarações à DW, o político da RENAMO disse que espera que a polícia prove as acusações "detalhando as razões pelas quais o [seu] nome consta desta lista".
Os incidentes têm gerado condenação nacional e internacional por parte de defensores de direitos humanos, partidos políticos e organizações não-governamentais.
Artigo atualizado às 17h25 (UTC)