Remodelação no Governo de Zuma envolta em polémica nuclear
7 de abril de 2017"A razão pela qual a remodelação governamental foi tão importante foi um acordo assinado com a empresa russa de energia nuclear Rosatom", explica Makoma Lekalakala, da organização ambientalista e anti-nuclear sul-africana Earthlife Africa. "Este acordo foi assinado secretamente," acusa.
No último domingo (02.04), Sibusisiwe Mngadi, membro Congresso Nacional Africano (ANC), escreveu na sua página no Facebook que o novo ministro das Finanças, Malusi Gigaba, há apenas dois dias no cargo, teria assinado o documento para a suposta construção de reatores nucleares no país. Gigaba negou, mas isso não tranquilizou a população.
Nas redes sociais, acendeu-se o debate sobre o suposto contrato com a empresa russa Rosatom. Finalmente, o ministro das Finanças Pravin Gordhan, deposto na quinta-feira, foi considerado o maior obstáculo para a facção pró-nuclear do Governo sul-africano. Ele teria repetidamente alertado sobre o custo do projeto, que significaria nova dívida para a África do Sul. Também a ministra da Energia e o vice-ministro das Empresas Públicas tiveram que sair do Governo.
Negócio milionário
A central nuclear deverá custar cerca de 70 mil milhões de euros. A corrupção seria o fator determinante para o negócio, diz Hartmut Winkler, professor de Física na Universidade de Joanesburgo.
"Se certas organizações, incluindo a empresa russa Rosatom, obtiverem o contrato, significa uma grande soma de dinheiro para elas. E acredita-se que elas subornaram alguns oficiais do Governo sul-africano para as ajudarem a construir essa central," revela.
Já em 2014, a Rosatom havia anunciado uma "parceria estratégica" com a África do Sul, quando o Presidente Zuma visitou o seu homólogo russo, Wladmir Putin.
Na época, a expectativa era de que uma central com oito reatores nucleares e uma potência de 9,6 gigawatts entrasse em operação, até 2030. Mas a Sociedade de Energia Nuclear Sul-Africana (Necsa) desistiu depois de o anúncio ter causado um escândalo.
"Os beneficiados seriam Zuma e os seus aliados. E a família Gupta tem um papel importante, já que é a ela que pertence a mina de urânio de Shiva, perto de Joanesburgo", diz Hartmut Winkler. Nesta mina trabalhou até há pouco tempo o filho do chefe de Estado sul-africano, Duduzane Zuma.
Os empresários Ajay, Atul e Rajesh Gupta estiveram envolvidos em vários escândalos com Jacob Zuma e, em 2016, quase custaram ao Presidente o seu mandato.
Eskom: Nenhum acordo
Responsável pelo acordo nuclear é a empresa de energia estatal da África do Sul, Eskom, subordinada ao Ministério das Empresas Públicas. Questionada pela DW, a Eskom respondeu não ter "conhecimento de um acordo entre a Rússia e África do Sul." A África do Sul atualmente encontra-se em processo de recolha de propostas para o projeto, segundo o comunicado da Eskom.
Empresas interessadas podem apresentar as suas ofertas até 28 de abril. "Uma série de empresas já prometeram uma resposta, incluindo fornecedores de tecnologia nuclear de China, França, Rússia e Coreia do Sul," lê-se no comunidado. A Eskom informou que vai enviar os documentos para o Ministério das Finanças e ao Gabinete e espera uma aprovação ainda neste ano.
Desde 2012, a empresa nuclear russa Rosatom tem uma filial na África do Sul. De acordo com sua página na internet, a empresa pretende reavivar a energia nuclear na região e em África. Também na imprensa russa aparecem notícias sobre o interesse da Rússia em um acordo nuclear com a África do Sul.
O fornecedor nuclear estatal Rosatom já fez uma oferta, anunciou em janeiro de 2017 a agência de notícias russa TASS.
Segundo a investigação da DW, a Rosatom é considerada um dos principais candidatos para a construção da central de energia nuclear. A organização parceira da Eskom, a Sociedade de Energia Nuclear Sul-Africana (Necsa), recentemente afirmou que a Rússia já não estaria entre os favoritos.
Sucesso das energias renováveis desconsiderado
Makoma Lekalakala, da organização ambientalista e anti-nuclear sul-africana Earthlife Africa, mostra-se, no entanto, convencida de que a Rússia tenha feito um "acordo secreto" com a África do Sul. Os ativistas foram ao tribunal para exigir informações e parar a construção atómica.
"A maior parte das discussões sobre a energia nuclear foram realizadas em segredo e isso é uma violação dos nossos ideais estabelecidos na Constituição. Transparência, abertura e discussões democráticas, que não foram cumpridos", critica Lekalakala.
A África do Sul celebrou acordos intergovernamentais com outros provedores, tais como a China, para uma possível cooperação, mas segundo Lekalakala os acordos com a Rússia são mais detalhados. "Significa que, se algo acontecer, a Rosatom não é responsável. Há algo aí que não está certo", considera.
"No final, os russos irão beneficiar do dinheiro dos impostos dos sul-africanos, bem como os negociadores e as elites políticas", critica a ativista.
O plano de energia do país prevê priorizar opções acessíveis para a energia. A África do Sul tem suficiente vento, sol e biogás. Os programas corriam bem, até que a Eskom anunciou, no ano passado, que não irá assinar novos contratos com produtores independentes de energia, por razões de custo.
Se o suposto acordo nuclear for implementado agora, sobretudo os consumidores, principalmente os sul-africanos, serão penalizados. "O preço da electricidade vai ficar muito mais caro", afirma o físico Hartmut Winkler.
Além disso, o consumo de energia não terá subido tão drasticamente que a África do Sul deva considerar agora a energia nuclear como uma fonte para o futuro. O programa "verde" de energia, que começou em 2012, teve sucesso. De acordo com Hartmut Winkler, estudos mostram que a África do Sul poderia renunciar à energia nuclear nos próximos 20 anos.