RDC acusa rebeldes de ataque que matou embaixador italiano
22 de fevereiro de 2021"Uma caravana do Programa Alimentar Mundial (PAM) foi vítima de um ataque armado por elementos das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR)" na província do Kivu Norte, afirmou o Ministério do Interior congolês numa declaração, acrescentando que quatro pessoas foram raptadas na ocasião, uma das quais foi, entretanto, encontrada.
A declaração surge pouco tempo depois de o Governo da República Democrática do Congo (RDC), através da ministra dos Negócios Estrangeiros, Marie Tumba Nzeza, ter garantido tudo fazer para esclarecer o homicídio do embaixador italiano Luca Attanasio, ocorrido esta segunda-feira (22.02) durante um ataque a uma caravana das Nações Unidas perto da cidade congolesa de Goma.
O ataque, que também matou um polícia e o condutor do carro em que viajavam, visou dois veículos do Programa Alimentar Mundial da ONU (PAM) e teve lugar em Kibumba, 25 quilómetros a nordeste de Goma, na província do Kivu Norte, numa área onde se situa o Parque Nacional da Virunga, na fronteira entre a RDC, o Ruanda e o Uganda, e onde operam vários grupos armados.
Attanasio, 43 anos, casado e com três filhas, tinha-se tornado chefe de missão em Kinshasa em setembro de 2017, onde estava a levar a cabo numerosos projetos humanitários. Os outros dois mortos são o 'carabinieri' Vittorio Iacovacci, de 30 anos, e o condutor do carro, cuja identidade não foi revelada.
Itália e UE condenam ataque
O Presidente italiano, Sergio Mattarella, já denunciou o "ataque cobarde" que custou a vida ao seu embaixador e afirmou que "a República italiana está de luto por estes servidores do Estado que perderam a vida no exercício das suas funções". O chefe de Estado lamentou o "ato de violência" perpetrado contra a caravana do PAM.
A União Europeia também já reagiu e está a seguir "de perto", ao nível de chefes de diplomacia, as "terríveis notícias" do ataque que resultou na morte do embaixador italiano. Durante a conferência de imprensa diária do executivo comunitário, o porta-voz da Comissão, Eric Mamer, referiu que tinha acabado de tomar conhecimento das "terríveis notícias" e adiantou que o assunto estava já a ser debatido pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, que se encontravam reunidos presencialmente em Bruxelas.
De acordo com uma porta-voz do Serviço Europeu de Ação Externa, o Alto-Representante da UE, Josep Borrell, deu conta do sucedido no Conselho de Negócios Estrangeiros, e "apresenta as suas condolências à Itália, às Nações Unidas e às vítimas da violência na RDC".
Também o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, se mostrou "chocado" com o ataque. "Chocado pelo ataque a um comboio do PAM na República Democrática do Congo e pelas vidas perdidas, entre as quais a do embaixador de Itália e de um militar", reagiu Charles Michel, através da sua conta oficial na rede social Twitter.
Estrada considerada segura
O Programa Alimentar Mundial afirmou, entretanto, que o ataque à sua caravana aconteceu numa estrada considerada segura para viajar sem escolta. "O Programa Alimentar Mundial irá trabalhar com as autoridades nacionais para determinar os detalhes por detrás do ataque, que ocorreu numa estrada que tinha sido previamente considerada segura e liberada para viajar sem escolta de segurança", disse, em comunicado, a agência das Nações Unidas.
A organização esclareceu que a delegação, onde se incluía o embaixador de Itália na RDC, estava a sair de Goma para visitar o programa de alimentação escolar do PAM em Rutshur, quando se deu o ataque.
No comunicado, o PAM expressa "profunda solidariedade" e endereça "condolências à família, colegas e amigos das três pessoas mortas", assegurando que está a acompanhar a situação e em contacto permanente com as autoridades italianas e da República Democrática do Congo.
O ataque teve lugar a norte de Goma, a capital da província do Kivu Norte, que tem sido flagelada pela violência de grupos armados há mais de 25 anos. Esta região, que acolhe o Parque Nacional da Virunga, uma joia natural, turística e em perigo de extinção, é também o cenário de conflito no Kivu Norte, onde dezenas de grupos armados lutam pelo controlo da riqueza do solo e subsolo.