Rússia repete ameaça nuclear após referendos de anexação
27 de setembro de 2022Os referendos sobre a adesão à Federação Russa dos territórios ucranianos ocupados de Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson terminam esta terça-feira (27.09) e serão objeto de discussão numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Como decorre a contagem dos votos?
As autoridades pró-russas das quatro regiões ucranianas controladas por Moscovo anunciaram que o "sim" vai à frente na contagem dos votos.
Segundo as agências de notícias russas Ria Novosti, Tass e Interfax, as autoridades de cada uma das quatro regiões ucranianas afirmaram que o "sim" conquistou entre 97 e 98 por cento dos votos, quando estão contados entre 20% a 27% dos boletins.
Uma fonte parlamentar russa citada pela Tass disse que a anexação destes territórios à Rússia será muito provavelmente formalizada já na sexta-feira, 30 de setembro, dia em que o Presidente Vladimir Putin poderá discursar ao país.
Outra fonte parlamentar citada pelas agências de notícias avançou que, se os resultados favoráveis à anexação forem confirmados, a incorporação dos territórios ucranianos deve ocorrer a 4 de outubro, três dias antes de Putin completar 70 anos de idade.
O que implica o "sim" no referendo?
A Ucrânia e os aliados ocidentais não reconhecem a validade dos referendos, que denunciaram como uma farsa. Em Kiev, o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kouleba, informou que os resultados dos quatro "referendos" orquestrados por Moscovo "não mudarão" as ações da Ucrânia face ao Exército russo.
A União Europeia anunciou que irá impor sanções a todas as pessoas envolvidas na organização dos referendos de anexação, que considerou como ilegais.
Putin disse esta terça-feira que a intenção da Rússia com os referendos é "salvar a população" nas quatro regiões ucranianas.
Em 2014, a Rússia usou o resultado de um referendo, que também decorreu sob ocupação militar, para legitimar a anexação da península ucraniana da Crimeia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, garantiu que a situação nas quatro regiões "mudará radicalmente do ponto de vista jurídico, com todas as consequências correspondentes para as garantias de segurança nestes territórios".
Em entrevista à DW, Olga Aivazovska, presidente da rede civil Opora, que realiza observação eleitoral independente e supervisão parlamentar na Ucrânia, disse que, depois do "pseudo-referendo" realizado nos territórios ocupados, Moscovo certamente vai anexá-los e recrutar cidadãos para o Exército russo.
"Estas pessoas não terão qualquer escolha", disse a ativista, admitindo que a Rússia poderá "aterrorizar" toda a Europa e a Ucrânia com a ameaça de um ataque nuclear.
A ameaça nuclear é real?
Esta manhã, o ex-primeiro-ministro e antigo Presidente russo Dmitry Medvedev levantou a possibilidade de a Rússia aplicar a doutrina de dissuasão nuclear nos territórios. Tais ataques estarão previstos no caso de um ataque nuclear contra a Rússia ou uma ameaça contra o Estado.
"As Forças Armadas russas fortalecerão significativamente a defesa de todos os territórios [ucranianos] ligados" à Rússia, disse Medvedev na rede social Telegram.
O reforço desta defesa, segundo Medvedev, passará pelas "possibilidades oferecidas pela mobilização" em curso no país. "A Rússia tem o direito de usar armas atómicas, se necessário, em casos pré-definidos, em estrita conformidade com os princípios da política governamental de dissuasão nuclear", sustentou.
O ex-Presidente ucraniano Petro Poroshenko, que governou o país entre 2014 e 2019, disse, em entrevista à DW, que Moscovo poderá utilizar o resultado dos referendos para justificar o lançamento de um ataque, incluindo um ataque nuclear, a partir dos territórios anexos.
O antigo estadista ucraniano chamou a Putin de "maníaco louco", que usa várias formas de chantagem, incluindo "chantagem de ataque nuclear".
No entanto, Poroshenko não acredita que Putin utilize armas nucleares se o Ocidente se comprometesse a uma resposta "severa" a qualquer ataque. Apelou, por isso, a uma declaração conjunta das potências nucleares de que haverá uma "reação rápida e decisiva" a um ataque nuclear russo.