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Quénia: Confrontos após descoberta de quarto cadáveres

Reuters | AFP | Lusa | mjp
19 de novembro de 2017

Polícia queniana usou gás lacrimogéneo para dispersar protestos após o homicídio de quatro pessoas em Mathare, um dos pontos quentes da violência que assola o país desde a eleição presidencial de 8 de agosto.

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Kenia - erneute Proteste in Nairobi
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

Pelo menos quatro pessoas foram encontradas mortas este domingo (19.11) num bairro degradado de Nairobi. As quatro vítimas, três homens e uma mulher, foram descobertas no bairro de Mathare, um dos pontos quentes da violência nas eleições no país desde a eleição presidencial de 8 de agosto, anulada pela justiça, e a nova eleição de 26 de outubro.

"Lançámos uma investigação sobre os assassínios de quatro pessoas mortas no setor de Mathare 1", declarou um responsável da polícia no local. Vários meios de comunicação quenianos noticiaram a descoberta dos quatro cadáveres, mas não era claro se as vítimas tinham sucumbido a ferimentos provocados por balas ou arma branca. 

A descoberta dos cadáveres desencadeou confrontos entre habitantes em fúria e a polícia, que disparou gás lacrimogéneo. Três veículos, incluindo dois autocarros de transporte de passageiros, foram incendiados e o bairro foi cercado pela polícia, tornando difícil o acesso dos meios de comunicação. 

Esta manhã, a Super Aliança Nacional (NASA, na sigla em inglês), na oposição, emitiu um comunicado assegurando que os seus seguidores estão a ser alvo dos Mungiki, uma temida seita ilegalizada da etnia Kikuyu, à qual se associam extorsões e assassínios de membros da etnia Luo.  

Kenia - erneute Proteste in Nairobi
Intervenção da polícia para travar apoiantes da oposição, na sexta-feira (17.11)Foto: picture-alliance/AA/B. Jaybee

A cidade de Nairobi é palco de tensão desde sexta-feira, quando pelo menos cinco pessoas foram mortas em confrontos entre a polícia e apoiantes da oposição que acompanhavam o líder Raila Odinga após uma viagem aos Estados Unidos. O líder da NASA vai visitar a zona de Mathare esta tarde.

Os confrontos deste domingo têm lugar na véspera da decisão do Supremo Tribunal do Quénia quanto a dois processos para anular a reeleição do Presidente Uhuru Kenyatta na repetição das eleições, no mês passado.

Quenianos apontam o dedo ao grupo Mungiki

Na conta oficial do Twitter, a NASA indicou que tem informações segundo as quais o Governo queniano está a permitir que os Mungiki assassinem os seus apoiantes. 

Entretanto, a polícia do Quénia nega que a violência étnica esteja associada à morte das quatro pessoas encontradas este domingo. O chefe da Polícia de Nairobi, Japheth Koome, indicou que a situação voltou à normalidade na zona e que foi aberta uma investigação para encontrar os autores dos assassínios. 

Os Mungiki são um temido grupo criminoso Kikuyu, o grupo étnico do Presidente Uhuru Kenyatta, que atuou na violência político-étnica de 2007 - 2008, conhecido por defender violentamente os interesses comerciais de seu grupo étnico. O termo Mungiki é desde então aplicado na generalidade a grupos de Kikuyu armados. 

A população do bairro degradado de Mathare é mista, com Kikuyu a coabitarem com membros das etnias Luo ou Luhya, cujos líderes são os principais responsáveis da oposição, designadamente o chefe desta, Raila Odinga, que é Luo.

"Parem de nos matar", dizem ativistas no Quénia

Amnistia pede contenção

Entretanto, a Amnistia Internacional (AI) exigiu que a polícia queniana deixe de utilizar fogo real contra os manifestantes da oposição, depois das mortes em confrontos com as forças de segurança armadas em Nairobi, na sexta-feira.

O investigador para a África Oriental da AI, Abullahi Halakhe, lembrou que "as armas de fogo só podem ser usadas quando não resta outra opção para salvar vidas". "Jamais devem ser utilizadas para dispersar as massas. O uso indiscriminado de fogo real é totalmente inaceitável", acrescentou.

A crise eleitoral no Quénia - que repetiu em outubro os pleitos presidenciais de agosto na sequência de irregularidades detectadas pelo Tribunal Supremo - deixou até agora 66 mortos, segundo dados recolhidos pela Amnistia.

Raila Odinga continua a recusar aceitar os resultados da repetição das eleições presidenciais realizada no último dia 26 de outubro, na qual o atual presidente, Uhuru Kenyatta, conseguiu mais de 98% dos votos, depois de o líder da oposição ter anunciado a sua retirada e pedido aos seus apoiantes que boicotassem a votação.

Apesar de a coaligação dirigida por Odinga, a Super Aliança Nacional, não ter apresentado desta vez um recurso perante o Supremo Tribunal, outras organizações e indivíduos entraram com uma ação, e está previsto que a principal corte do país realize uma audiência na segunda-feira.

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