Quinze anos de "paz militarizada" em Cabinda
3 de abril de 2017Cabinda nada ganhou com esta paz, considera Jorge Casimiro Congo. Segundo o defensor da auto-determinação do povo cabindês, com o calar das armas em Angola, a tensão militar aumentou no território.
Daí o incremento de dificuldades de todo nível, apesar da riqueza da região. "São 15 anos de nulidade, 15 anos de sofrimento e 15 anos de bulldozer, isto é, o desaparecimento de quase tudo.", explica o sacerdote em entrevista à DW África.
"O Governo angolano joga com o tempo, o tempo das gerações mais lúcidas acabar, o tempo do cansaço político das pessoas e sobretudo o tempo do desespero das esperanças da população de Cabinda acabar", afirma. "É o que temos agora e o que vamos viver agora", conclui o docente universitário.
Embora se fala de paz, Cabinda é o território angolano onde a presença militar é maior. Casimiro Congo diz que faz tudo parte da estratégia do Governo angolano.
"Tenho visto esta estratégia a longo prazo e a curto prazo. A curto prazo é o decapitar da FLEC", a Frente de Libertação do Estado de Cabinda, afirma.
"Ficaram só alguns líderes, uns estão no quartel general da região militar e outros continuam a resistir e vão sofrendo as traições até dos seus próprios", conta o sacerdote.
Ao mesmo tempo, denuncia ainda Jorge Congo, debilita-se também o espaço de expressão no território.
Desertificação
O docente mostra-se ainda indignado com o que chama de "desertificação de Cabinda", isto é, a saída dos jovens da província por falta de emprego e de oportunidades.
"Estamos a ver toda a juventude na flor da idade a partir", lamenta.
O campo petrolífero do Malongo "deu o tom", em 2015, com despedimentos de trabalhadores de empresas prestadoras de serviços à Chevron, exemplifica Jorge Congo, "tirando todas as instituições e todos os departamentos que podiam eventualmente ter cabindas e obrigou-os a todos a irem para Luanda".
"O Malongo deu esse mote e o Governo vai continuando", critica. "Sem investimentos aqui, evidentemente que não há empregos".