Quem é o novo Presidente da Zâmbia?
17 de agosto de 2021O homem de negócio que se afirma como um cidadão comum e simples criador de gado será o sétimo Presidente da República da Zâmbia. O empresário Hakainde Hichilema, de 59 anos de idade, também conhecido por "HH" ou "Bally”, derrotou o Presidente cessante Edgar Lungu nas presidenciais de 12 agosto, por quase um milhão de votos de diferença. Obteve mais de 2,8 milhões de votos, segundo os resultados da comissão eleitoral divulgados na segunda-feira (16.08).
Hakainde Hichilema prometeu reformas políticas, económicas e democráticas para facilitar investidores. O economista quer ajudar o país a melhorar a situação da dívida. HH promete tolerância zero à corrupção na Zâmbia.
"Perante vós para dizer que chegou a mudança. A Zâmbia prevaleceu. Esta vitória não pertence a HH, a Bally, esta vitória pertence aos homens e mulheres da Zâmbia, especialmente aos jovens", prometeu.
O Presidente eleito afirma-se como um rapaz do gado, por ser um dos maiores criadores da Zâmbia. O conhecido homem de negócios formou-se em Economia e administração das empresas pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido.
De 2006 a 2021, Hichilema disputou um total de seis eleições, perdeu cinco e ganhou a última disputa presidencial com o apoio do seu partido Unido para o Desenvolvimento Nacional (UPND) e de outras forças políticas da oposição zambiana.
"Acumulou uma experiência política séria"
Neo Simutanyi, analista político zambiano, diz que os 15 anos de carreira política de Hichilema fizeram dele um político preparado para assumir os destinos da Zâmbia.
"Estamos a falar de alguém que cresceu muito como político ao ser capaz de desafiar os opositores experientes durante muito tempo. Portanto, acumulou uma experiência política séria", avalia.
Ainda segundo o analista, que é também diretor executivo do Centro para o Diálogo Político em Lusaka, capital da Zâmbia, a vitória expressiva de Hichilema num pleito com a participação de mais de 70% da população mostra que o povo zambiano quer mudança de regime, que está no poder desde 2015.
"A melhor forma de compreender esta votação é o voto de protesto contra a Frente Patriótica. É realmente um referendo. Os círculos eleitorais que votaram em Hichilema nunca votaram nele antes. A eleição foi muito mais uma rejeição da Frente Patriótica", considera Simutanyi.
Hichilema é a esperança para melhorar a economia
Mas, professor da economia na Universidade de Birmingham, Nic Cheeseman, acredita que o povo apostou no Hichilema para relançar a economia do país, pois
"muitos zambianos culpam o Governo da Frente Patriótica pelas dificuldades económicas que enfrentam. Dizem que o Governo é corrupto e aumentou a dívida pública do país".
"E, é claro, a Zâmbia teve recentemente um incumprimento da dívida. Entendem que a economia não iria melhorar com a Frente Patriótica no poder. E Pensam com a sua reputação de figura empresarial que talvez Hichilema pudesse ser melhor na gestão da economia e no relacionamento com a comunidade internacional", interpreta Cheeseman.
A Zâmbia, o segundo maior produtor de cobre em África, viu a sua economia estagnar quando os preços do cobre entraram em colapso em meados de 2011. A depressão dos preços dos produtos básicos e a pandemia de Covid-19 agravaram ainda mais a sua recuperação económica. Em novembro de 2021, a Zâmbia tornou-se no primeiro país de África, na era da pandemia, a não pagar as dívidas pública internacionais.
Cumprir promessas feitas aos jovens
O membro da UPND, partido que apoiou o agora Presidente eleito, reconhece que o voto dos jovens entre 18 a 24 anos foi determinante na eleição do economista. Joseph Kalimbwe diz que o sucesso empresarial de Hichilema convenceu a camada jovem a apostar no seu projeto.
"Os jovens desempenharam um papel fundamental na votação contra o regime anterior, apostando na nova liderança. Agora, Hichilema tem de garantir que vai cumprir as promessas que temos vindo a defender. Queremos que os jovens tenham acesso aos recursos que lhes permitam iniciar os seus próprios negócios, o que não acontecia no regime anterior", diz esperançoso.
O ainda Presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, admitiu a derrota eleitoral, num discurso em que felicitou o seu rival de longa data pela vitória eleitoral. Detido mais de 15 vezes, Hichilema vai assumir a Presidência da Zâmbia nos próximos cinco anos, num contexto de crise económica.