Quelimane: Marcha de Manuel de Araújo criticada pelo MDM
29 de dezembro de 2018Dezenas de membros da RENAMO saíram à rua, este sábado (29.12), acompanhados por Manuel de Araújo, para celebrar os sete anos da sua governação do município de Quelimane. No entanto, esta foi uma marcha que não reuniu consenso, com alguns civis e membros do MDM a dizerem que não faz sentido esta comemoração, uma vez que o edil já não faz parte do partido MDM, que o elegeu para esta função, há sete anos atrás.
No entanto, e em entrevista à DW, Manuel de Araújo explicou que, para além de comemorar o sétimo aniversário da sua governação, a marcha teve outros objetivos.
"Simboliza três acontecimentos: a nossa vitória nas eleições de 10 de outubro, os sete anos da libertação da Cidade de Quelimane e a celebração do fecho do ano político", começou por afirmar Manuel de Araújo, acrescentando que 2018 "foi um ano bastante difícil e complexo mas, ao mesmo tempo, um ano de muitas vitórias. É uma forma de agradecer aos munícipes pela forma como souberam votar e como souberam defender o voto. O povo de Quelimane é heróico. Depois de votar não foi para casa, ficou para defender".
Joaquim e Carla Baite foram dois dos moçambicanos que se juntaram à marcha deste sábado. Dizem ter vindo para "celebrar a vitória de Manuel de Araújo" nas eleições de outubro e que estão satisfeitos pela RENAMO governar a cidade de Quelimane.
Um dos principais marcos históricos de Manuel de Araújo foi o abandono, em agosto deste ano, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), e a posterior integração na Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), pelo qual concorreu e venceu as últimas eleições autárquicas, realizadas a 10 de outubro deste ano.
Críticas
Razão pela qual a marcha deste sábado (29.12) criou uma série de revoltas, principalmente, por parte dos membros do anterior partido de Araújo, o MDM.
Listano Evaristo, delegado do MDM, diz desconhecer a realização de uma marcha organizada por Manuel de Araújo, que considera um traidor. Em entrevista à DW África, Listano Evaristo frisa que quem está a celebrar o sétimo aniversário é o MDM. E que, no seu entender, "Manuel de Araújo está a usar o manifesto do MDM” e que por isso "deveria ter pedido aos donos [autorização para tal]". "A nossa governação foi uma coisa que conquistámos juntos. Ele, sozinho, convocou os membros da RENAMO e está a comemorar com pessoas que não fazem parte. Pelo menos podia-nos ter comunicado, mas não temos informação", garante Listano Evaristo.
A marcha dos sete anos de governação de Manuel de Araújo começou por volta das 9 horas locais com a deposição de uma coroa de flores na praça para homenagem aos heróis de libertação de Moçambique na cidade de Quelimane. Percorreu depois todos os bairros urbanos.
No início do encontro, vários vereadores estiveram presentes mas depois, ao aperceberem-se da presença de membros da RENAMO, abandonaram o local. Um destes vereadores, e também membro do MDM, foi José Arijama. À DW mostra-se descontente com os acontecimentos deste sábado (29.12). ″Manuel de Araújo convocou os vereadores para depositarem uma coroa de flores na praça e depois convocou elementos da RENAMO. Ele não nos comunicou que ia marchar para a RENAMO. Disse-nos sim que iríamos depositar uma coroa de flores alusiva aos sete anos [da sua governação]".
Segundo José Arijama, "a RENAMO marcha pela vitória, mas não pode marchar pelos sete anos, porque nem sequer começou a governar. Se fosse pela governação devia ter contactado o partido MDM para mobilizar a população". E acrescenta: "Eu não soube nada da comemoração de Araújo. Apelo às pessoas de Quelimane para que não se perturbem, saibam dar ao César o que é de César, fazer marcha pelos sete anos de governação com membros da RENAMO é o mesmo que fazer uma festa de casamento na casa de uma amante".