Queda nos preços do petróleo vai aumentar pobreza em Angola
16 de dezembro de 2014
As economias de países exportadores de petróleo, entre eles Angola, vão atravessar momentos difíceis em 2015 e, possivelmente, nos próximos anos. Informações das agências de notícias dão conta de que a queda de quase 40% nos preços do produto em 2014 terá como resultado um sério desequilíbrio nos orçamentos.
Em Angola, os impactos serão bastante sentidos nas áreas sociais, com destaque para a educação, a saúde e a alimentação. "Os níveis de pobreza irão aumentar porque os produtos acabados que Angola importa irão custar mais caro. A oferta será muito pouca em termos de alimentação, e a demanda será maior, então as coisas estarão fora do alcance dos pobres. Do outro lado, a maior parte do desenvolvimento de infraestrutura que está a acontecer no país, infelizmente, irá parar, porque Angola não terá dinheiro para suportar isso", diz Elias Isaac, diretor da Fundação Open Society no país.
Em outubro, o clima de incertezas levou o presidente José Eduardo dos Santos a adiar a construção de 63 mil salas de aula, que inicialmente ficariam prontas em três anos. Agora, a nova previsão é de pelo menos cinco a dez anos.
Estratégia de grandes produtores
Os temores se concretizaram no final de novembro, quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) optou por não reduzir a produção, que está a superar demanda. No início de dezembro, a estratégia para conquistar mercados asiáticos levou os preços a romper a barreira dos 70 dólares por barril, valor bem inferior aos mais de cem necessários à economia angolana.
"Países como Angola dependem 97% da exportação de petróleo, e suas economias são muito pouco flexíveis", explica o especialista do instituto britânico Chatham House, Alex Vines. "Um país como a Arábia Saudita consegue sustentar os preços baixos de uma maneira que Angola não consegue. Pequenos produtores são muito mais suscetíveis aos impactos do que os grandes", complementa.
O cenário levou investidores internacionais a elevar as taxas de juro para empréstimos contraídos por Angola. De acordo com a agência financeira Bloomberg, o índice de referência para empréstimos a cinco anos atingiu o patamar mais alto da história: 7,72%, superior aos 7% cobrados da Nigéria, o maior produtor de petróleo da África subsariana.
Cortes em outros setores
No entanto, Elias Isaac aponta que haveria outras soluções a curto prazo mais profícuas, nomeadamente, a redução do desperdício de dinheiro público. "Infelizmente o governo de Angola é muito arrogante e não aceita críticas. Uma das coisas imediatas que o governo tem que fazer é cortar certas despesas, especialmente as que têm a ver com o setor da defesa e os dinheiros que são gastos na Presidência da República. No seu orçamento para 2015, há despesas completamente desnecessárias, que não são transparentes e o governo terá que cortar".
A longo prazo, a saída é a mesma já apontada por outros estudiosos: diversificar a economia angolana, hoje baseada apenas no petróleo. O especialista sublinha que a agricultura desponta como uma alternativa de receitas para o país e, também, para a própria população.