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Quénia: Detidos por ligação à “tomada de posse" da oposição

AFP | Lusa | mjp
3 de fevereiro de 2018

É o terceiro crítico do Governo detido nos últimos quatro dias pela polícia queniana por alegado envolvimento na cerimónia de posse de Raila Odinga como "o presidente do povo".

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Raila Odinga "toma posse" como "presidente do povo"Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/B. Jaybee

A polícia do Quénia deteve este sábado um crítico proeminente do Governo pelo seu alegado envolvimento na recente encenação da tomada de posse do líder da oposição Raila Odinga como "presidente do povo". É a terceira detenção do género em quatro dias.

George Aladwa é acusado de ajudar a organizar a tomada de posse simbólica que teve lugar a 30 de janeiro em Nairobi, perante dezenas de milhares de apoiantes. Na ocasião, Raila Odinga reiterou que não reconhece os resultados eleitorais da votação do ano passado, que boicotou, e, como tal, não vê Uhuru Kenyatta como chefe de Estado.

As ameaças jurídico-constitucionais em que Odinga poderia incorrer, incluindo a acusação de "crime de alta traição", não impediram o líder da oposição e a coligação de organizar e concretizar a "tomada de posse".

Segundo a polícia, George Aladwa, que foi detido na manhã deste sábado na sua residência, também está a ser interrogado acerca do se papel num tiroteio na quarta-feira na residência  do número dois da coligação da oposição, a Super Aliança Nacional (NASA, na sigla em inglês), Kalonzo Musyoka.

"Aladwa está a ser investigado pelo que aconteceu em casa de Kalonzo. Está também a ser interrogado pelo caos em Nairobi, no qual mobilizou os jovens”, disse o porta-voz da polícia Charles Owino à AFP.

"Questão de tempo até explodir”

A reeleição de Kenyatta, em outubro, levou a confrontos sangrentos e dividiu o país. O Governo acusa Odinga de tentar "derrubar” o chefe de Estado, enquanto a oposição diz que o processo eleitoral foi fraudulento e denuncia a ilegitimidade dos resultados.

Pelo menos 92 pessoas morreram nos últimos meses, com a maioria dos manifestantes morta às mãos das forças de segurança, segundo as organizações de defesa dos direitos humanos.

Kenia symbolische Vereidigung Raila Odinga
Apoiantes de Odinga na cerimónia simbólica de tomada de posseFoto: picture-alliance/Anadolu Agency/B. Jaybee

Além de Aladwa, esta semana foram também detidos o ativista da oposição Miguna Miguna e o advogado TJ Kajwang, alegados elementos-chave na tomada de posse de Odinga.

O Governo bloqueou três dos principais canais de televisão para travar a transmissão da cerimónia de terça-feira. Os canais continuam fora do ar este sábado, apesar de um tribunal ter emitido uma ordem na quinta-feira para pôr fim às suspensões.

A polícia ignorou igualmente uma ordem judicial para libertar Miguna nas vésperas de se apresentar em tribunal, esta segunda-feira (05.02).

"A tensão está a aumentar e é só uma questão de tempo até explodir”, diz o editorial do jornal queniano Daily Nation deste sábado. "É absurdo que Odinga e os seus membros de coligação tenham escolhido o caminho do confronto…mas a reação do Governo é igualmente revoltante”, acrescenta.

Comunidade internacional pede respeito e diálogo

As Nações Unidas e os Estados Unidos já denunciaram a repressão das autoridades queniananas. No entanto, a tomada de posse simbólica terá alienado o líder da oposição da comunidade internacional, com os diplomatas ocidentais a sublinhar que não têm estado em contacto com Raila Odinga.

Os apelos internacionais ao diálogo entre as partes têm sido ignorados há meses tanto pelo Governo como pela oposição.

Esta sexta-feira, o presidente da Comissão da União Africana pediu à NASA que respeite a Constituição e que aceite os resultados das presidenciais e manifestou preocupação com a encenação da tomada de posse.

Num comunicado de imprensa, Moussa Faki Mahamat, antigo primeiro-ministro do Chade, realçou que a UA enviou uma missão de observação às eleições de outubro de 2017, que reelegeram Uhuru Kenyatta como chefe de Estado, e que a delegação as considerou livres, pelo que "rejeita todas as ações que minem a ordem constitucional".

"Apelamos às partes interessadas que atuem em completo cumprimento da Constituição e das leis quenianas", indicou Mahamat.