Quénia repete eleições a 17 de outubro
5 de setembro de 2017Segundo o presidente da Comissão Eleitoral do Quénia, Wafula Chebukati, as novas eleições decorrerão 40 dias depois da decisão do Supremo Tribunal, anunciada na semana passada, de anular o escrutínio de agosto.
O anúncio do tribunal surpreendeu o próprio Presidente Uhuru Kenyatta, que tinha sido dado como vencedor com 54% da votação, com uma diferença de um milhão e 400 mil votos do líder da oposição, Raila Odinga.
Mas a oposição contestou. Odinga e a Super Aliança Nacional alegaram "fraude" em cerca de um terço dos 15 milhões e meio de votos. O líder da oposição apelou a uma greve nacional que foi violentamente reprimida pela polícia, causando a morte de mais de 20 pessoas.
Decisão "corajosa"
Os observadores eleitorais declararam as eleições como livres, pacíficas e justas. Mas, segundo Susan Muriungi, da fundação política alemã Konrad-Adenauer em Nairobi, as missões internacionais de observação pareciam mais focadas em manter a ordem após o derramamento de sangue que se seguiu às eleições de 2007, em que morreram mais de 1200 pessoas.
"Os problemas que surgiram foram profundos e não é fácil para um observador entender, a menos que preste especial atenção aos dias que se seguiram à votação", afirma Muriungi. "Os observadores não estiveram no terreno tempo suficiente para identificar os problemas que conhecemos."
O analista queniano Martin Oloo afirma, por isso, que a decisão do Supremo Tribunal do Quénia foi corajosa.
"O tribunal mostrou que, quando somos fortes e corajosos, conseguimos reafirmar os princípios constitucionais e o Estado de Direito. Nesta situação, os vencedores são a Justiça, o Estado de Direito e o espírito do constitucionalismo", diz.
De acordo com o especialista, o Quénia pode servir de exemplo a outros países do continente, onde os tribunais têm uma longa tradição de corrupção e são muitas vezes vistos como uma extensão dos Governos.
"África ainda é o lar de homens como [o Presidente do Zimbabué, Robert] Mugabe. Temos problemas de liderança em África. Com a decisão do Quénia houve progresso. Nunca se registou o caso de uma eleição anulada e o Quénia fê-lo", lembra Oloo.
O presidente da União Africana, o chefe de Estado da Guiné-Conacri, Alpha Condé, classificou a decisão inédita de anular o escrutínio e repetir a eleição como uma "honra para África". A Comissão Eleitoral queniana prometeu melhorar o sistema de apuramento dos resultados.