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Primeira associação LGBT em Angola espera mudanças

6 de agosto de 2018

A Associação Íris foi legalizada há um mês em Luanda. Depois de um longo processo, a primeira associação LGBT de Angola espera poder trabalhar mais afincadamente em campanhas sobre os direitos da comunidade.

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Criada em 2015, Associação Íris já tem mais de 200 membrosFoto: DW/K. Ndomba

Cheira a tinta fresca na nova sede da Associação Íris, em Luanda. Os membros da associação ainda estão a pintar a casa. A Íris acaba de ser legalizada e o coordenador Carlos Fernandes espera que isso traga mudanças.

A comunidade Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (LGBT) continua a ser discriminada em Angola e fala-se pouco sobre o tema. "As pessoas evitam ou fingem que não querem falar sobre algo que já existe. Em Angola, temos muitos problemas em falar das coisas", conta Carlos Fernandes. "Sou homossexual e nunca deixei de ser homossexual apesar dos comentários negativos. Mas, ainda assim, há aberturas", destaca.

Os comentários negativos são fruto da falta de informação, comenta Sander Eliezer, que é transgénero e foi alvo de discriminação na escola. "Estava a estudar na 12ª classe. Um dos professores que era responsável pelos exames disse que eu não podia fazer as provas se não me vestisse como uma mulher", recorda.

Primeira associação LGBT em Angola espera mudanças

E não é só na escola ou no trabalho. Muitas vezes, a discriminação começa em casa. Laura Bonifácio, conhecida como "Marley", conta que a sua orientação sexual gerou controvérsia na sua família. Mas diz que é preciso resistir a isso tudo.

"Se formos heterossexuais, as pessoas reclamam. Se formos homossexuais, as pessoas reclamam também. A vida é difícil para os humanos e ninguém tem a vida fácil. Se não tivermos problemas no seio familiar, vamos encontrar problemas fora", diz.

Mais de 200 membros

A Associação Íris já tem mais de 200 membros, incluindo algumas figuras públicas, segundo o coordenador Carlos Fernandes. Agora que está legalizada, o coordenador espera que a associação possa dar voz à comunidade LGBT e ajudar muitos angolanos a "saírem do armário" e assumirem-se como homossexuais, bissexuais ou transgénero.

Angola LGBT-Verein Iris Carlos Fernandes
Carlos Fernandes, coordenador da ÍrisFoto: DW/K. Ndomba

Há muitos anos que a Íris, que foi criada em 2015, esperava por esta oficialização. Mesmo sem certidão de constituição, a associação já participou em vários projetos.

"Estivemos envolvidos em estratégias em relação ao acesso à saúde para os membros da nossa comunidade. Também trabalhamos em conjunto com o Ministério da Educação e com a UNICEF, que elaborou um manual de educação de paz que fala sobre sexualidade na juventude, violência doméstica, bullying, e também conseguimos incluir a questão da identidade de género, orientação sexual e violência contra os membros da nossa comunidade", conta Carlos Fernandes.

Mauro Sérgio é heterossexual e já é membro da associação há algum tempo, mas ainda ouve muitas críticas: "Alguns ainda me criticam porque sou amigo de gays e lésbicas. Outros até perguntam o que eu vi neles. E respondo somente que são pessoas comuns, tal como eu."

Esta é uma das mensagens que a Associação Íris pretende disseminar em Angola. Agora que está oficializada, a associação poderá ter acesso a mais financiamento para as suas atividades. A nova sede já está pintada de fresco, mas ainda há muito trabalho por fazer.