Presidente dos Camarões anuncia recandidatura no Twitter
13 de julho de 2018As eleições presidenciais nos Camarões irão decorrer num contexto de tensão, na medida que o país enfrenta invasões do grupo jihadista nigeriano Boko Haram a norte e tem sido palco de conflitos nas regiões anglófonas, a noroeste e sudoeste, entre o exército e grupos separatistas radicais.Ontem, quinta-feira (13.07), em Kumba, sudoeste do país, um comboio em que seguia o ministro da Defesa, Joseph Beti Assomo, foi atacado. Quatro militares e um jornalista ficaram feridos e vários atacantes foram mortos. O movimento separatista tem ganho força desde finais do ano passado, procedendo a ataques às forças da ordem e segurança, incendiando escolas, violando símbolos administrativos e sequestrando funcionários públicos.
Para além de Paul Biya, outros candidatos às presidenciais já são conhecidos, entre os quais Joshua Osih, da Frente Democrática Social, principal partido da oposição, também o vice-presidente local da organização Transparência Internacional, Akere Muna, e o presidente do partido Movimento para a Renascença dos Camarões, Maurice Kamto.
Paul Biya "precisa de repouso"
Para Joshua Osih, candidato da Frente Patriótica Social às eleições presidenciais de 7 de outubro, o anúncio de candidatura feito pelo Presidente cessante Paul Biya não devia existir e explica a sua posição à DW África.
“O país está numa situação de implosão social, a economia está de rastos, a unidade nacional já não existe, a paz no país desapareceu e os jovens continuam desesperadamente à procura de trabalho. A situação está assim tão complicada por causa da má governação do país. Os Camarões é hoje um Estado falhado”, afirma Joshua Osih.
Segundo o líder do principal partido da oposição nos Camarões, Paul Biya ao anunciar a sua candidatura a um novo mandato mostrou aos camaroneses que está numa lógica de tudo ganhar ou de tudo perder, mas não é isso que os camaroneses querem atualmente. Joshua Oish acredita que a população esperava que Biya reconhecesse não “poder estar em condições de governar um país”.
“Ele precisa de repouso e deixar aos camaroneses a possibilidade de fazer outras escolhas".
Em entrevista à DW, Joshua Osih, considera que na verdade o próximo pleito eleitoral será mais um referendo do que propriamente uma eleição presidencial.
“Os camaroneses vão decidir se o país deve continuar como está ou se deve encontrar outras vias e formas de desenvolvimento”.
Entretanto, enquanto os candidatos às presidenciais começam a preparar as suas campanhas eleitorais a nível nacional, as regiões anglófonas do país continuam a viver sob grande tensão provocada por conflitos sangrentos. Desde o início desses conflitos, já morreram mais de 80 funcionários das forças de segurança.
Questionado se o Presidente Paul Biya não tomou as medidas necessárias para acabar com a violência nas províncias anglófonas, Joshua Osih afirmou que a medida que deve ser tomada por Biya é “deixar a presidência”.
“O anúncio que fez hoje da sua nova candidatura não é mais do que prolongar a crise nas províncias anglófonas. O problema está na pessoa de Paul Biya como Presidente dos Camarões. Toda violência que se verifica no país é o resultado da má governação.
Exemplo para outros países seguirem?
Paul Biya comunicou a sua candidatura esta quinta-feira (13.07) na rede social Twitter.
"Consciente dos desafios que devemos ultrapassar juntos para [um Estado dos] Camarões ainda mais unido, estável e próspero, aceito responder positivamente aos vossos incessantes apelos. Serei o vosso candidato às próximas eleições presidenciais", escreveu o chefe de Estado no Twitter.
Pelo menos 12 países africanos estão envolvidos em processos em que pretendem reverter a ordem constitucional e pôr cobro à limitação de mandatos.
Argélia, Camarões, Guiné Equatorial, Ruanda, Uganda, Burundi, Gabão, Congo, Togo, Zâmbia, Quénia e RDCongo, por diferentes razões, os seus respetivos Presidentes querem perpetuar-se no poder.
Mas, segundo vários observadores, a dúvida paira sobre que caminho poderão seguir outros dos restantes 43 Estados africanos se a democracia, tal como está implantada, pode ser revertida.
Tensão no país
Os Camarões foram uma colónia britânica e francesa até 1960, altura em que se tornou independente e instaurou um Estado federal até à realização de um referendo em 1972, que o unificou
O movimento separatista ganha força desde o fim de 2017, procedendo a ataques às forças da ordem e segurança, incendiando escolas, violando símbolos administrativos e sequestrando funcionários públicos
Desde o início dos conflitos, já morreram mais de 80 funcionários das forças de segurança nas regiões anglófonas do país africano. A minoria anglófona queixa-se de marginalização em relação à maioria francófona em matéria de distribuição de riqueza e diz que o inglês é considerado uma língua secundária.