Mohamed Bazoum: "A educação é o fundamento de um país"
20 de maio de 2021O Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, protagonizou a primeira transição democrática do poder em seis décadas de independência do Níger da França.
Foi um momento histórico e amplamente elogiado - embora o país continue a debater-se com problemas de instabilidade e inseguraça neste anteriores à tomada de posse presidencial.
Pouco mais de um mês depois de ter assumido a presidência, a DW entrevistou Mohamed Bazoum, que se congratulou pela iniciativa francesa de realizar uma Cimeira França-África, em Paris, que reuniu esta semana líderes africanos para discutir medidas de financiamento para o continente.
DW África: Na terça-feira passada (18.05) realizou-se a Cimeira França-África sobre as economias do continente e a busca de financiamento para combater as consequências da pandemia da Covid-19. Qual é foi a relevância da cimeira e o que espera que dela resulte?
MB: Esta cimeira iniciada pelo Presidente francês Emmanuel Macron, reuniu alguns presidentes africanos, doadores, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), bem como as principais instituições internacionais, para tomar medidas contra a pandemia da Covid-19.
Esta pandemia, mesmo que não tenha tido uma prevalência tão prejudicial no continente africano como foi o caso na Europa e noutras partes do mundo, teve sérios efeitos económicos em partes mais vulneráveis de África.
Alguns dos países mais afetados, especialmente os mais ricos, como a China, têm os meios financeiros para resolver os seus problemas económicos, a fazer uso dos seus enormes recursos económicos.
Infelizmente, os países africanos não serão capazes de resolver todos os danos causados pela Covid-19. Assim, trata-se de abrir um programa que permita estabelecer um diagnóstico e propor uma alternativas em termos de financiamento para a recuperação pós-pandemia.
Primeiro, decidimos foi obter autorização integral de produção das vacinas contra o coronavírus nos países africanos. A África do Sul, Senegal e Ruanda já manifestaram a ambição de fabricar vacinas.
Segundo, há reservas de dinheiros no FMI (Direitos de Saque Especiais, DTS), e os países africanos poderiam recorrer aos DTS que nos são destinados, num valor de 34 mil milhões de dólares.
É necessário desbloquear os fundos do FMI que estão reservados a 34 países africanos, para que possamos resolver parcialmente os nossos problemas. Exortamos os países ricos a realocar os DTS que não vão utilizar também para os nossos países.
A França, Portugal e alguns dos países que participaram na cimeira concordaram com uma reafectação dos seus DTS. Esperamos que a China e os Estados Unidos também estejam de acordo.
DW África: Como irá o Níger beneficiar-se disso?
MB: Pretendemos realizar grandes projetos. Eles incluem a construção de estradas, a melhoria da qualidade do nosso sistema de saúde, a promoção da educação - que é uma das prioridades do meu programa - através da construção de internatos para raparigas jovens em colégios rurais, a fim de as manter na escola durante muito tempo e evitar o casamento precoce. Forneceremos aos nossos sistemas de governação tudo do que eles necessitem.
DW África: Porque coloca tanto ênfase na educação?
MB: Há dez anos que o nosso partido investe muito na educação. Para uma mudança radical, é necessária uma boa educação, e é por isso que insisto muito. Num país como o nosso, os jovens precisam de ser formados, o que lhes permitirá investir melhor em várias áreas. É importante notar que as jovens raparigas na faixa etária dos 12 ou 13 anos tendem a abandonar a escola. E, uma vez fora da escola, são muitas vezes dadas em casamento.
DW África: Isso reflete-se no orçamento para a educação?
O orçamento é enorme, e é uma taxa que irá aumentar. Vamos fazer esforços juntamente com os doadores que nos prometeram apoio permanente. Não temos medo de investir na educação, porque ela é o fundamento de um país e do seu desenvolvimento.