Presidente da UNITA lamenta "censura permanente" em Angola
12 de setembro de 2021O presidente do partido União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto da Costa Júnior, comentou neste domingo (12.09) as ameaças de que foram alvo jornalistas dos canais públicos angolanos TPA e TV Zimbo ao cobrirem uma manifestação, ontem (11.09), convocada pelo seu partido.
O líder da UNITA condenou as ameaças, que disse "não terem partido da direção da UNITA", mas lamentou também a exclusão de que o partido alega ser alvo na cobertura mediática dos órgãos estatais.
Os profissionais da imprensa foram intimidados e ameaçados por manifestantes durante a cobertura da marcha que juntou neste sábado (11.09), em Luanda, milhares de apoiantes e simpatizantes da UNITA e outros partidos da oposição angolana, bem como membros da sociedade civil, que exigiam, entre outros, eleições transparentes.
TPA queixa-se de intolerância
A TPA queixou-se de intolerância, afirmando que o jornalista que fazia a cobertura teve de ir disfarçado para não ser identificado. Numa nota da direção, o canal público salientou que a UNITA solicitou cobertura jornalista da iniciativa, mas que, já no local, os integrantes da equipa de reportagem "depararam-se com um conjunto de insultos e ataques verbais e físicos, atentatórios" à sua integridade física e moral.
Quanto ao repórter da TV Zimbo (canal que pertencia ao grupo privado Medianova e foi nacionalizado no âmbito do programa de recuperação de ativos construídos com fundos púbicos para o Estado angolano) foi alvo de intimidação quando se preparava para fazer um direto.
"Este sábado (11.09), simpatizantes, militantes e amigos da UNITA, não deixaram os jornalistas da TV Zimbo fazerem o seu trabalho, colocando em perigo a integridade física dos repórteres, que se viram forçados a interromper a cobertura e transmissão em direto no jornal às 13 horas e que até mereceu a abertura do respetivo noticiário", disse a direção de informação num comunicado.
O canal pediu ainda à UNITA "que tenha uma cultura de paz e de cidadania, e que oriente os seus militantes, simpatizantes para que respeitem os valores consagrados na Constituição"
"Censura permanente"
O líder da UNITA sublinhou que não estava presente na altura em que os jornalistas foram alvo de ameaças, e condenou o ato de intolerância logo na altura, mas criticou também a "censura permanente" e a "exclusão da UNITA", que aponta como causas para que "alguns jovens tenham tido um posicionamento mais exaltado".
"As causas estão nas práticas dos órgãos públicos que há muito enterraram a democracia e as referências do Estado de Direito", salientou o dirigente.
Adalberto da Costa Júnior sublinhou que se tratou de "uma grande manifestação de cidadania", que contou com a participação e intervenção de outros partidos e forças políticas, como o Bloco Democrático, o Partido da Renovação Social e o PRA-JÁ, assim como organizações da sociedade civil, iniciativas que, sistematicamente, são ignoradas pelos órgãos públicos, controlados pelo Estado angolano
O presidente da UNITA sublinhou que o partido tem uma postura de pluralidade, convidando sempre todos os meios a cobrir as suas atividades, embora estas não sejam posteriormente transmitidas na televisão.
Considerou ainda "vergonhoso" o posicionamento do governo (do MPLA, partido no poder há 45 anos) que controla os órgãos estatais "partidarizados", e que violam a lei de imprensa ao não assegurar uma cobertura imparcial e equilibrada das atividades da oposição
"João Lourenço tomou o poder e tornou-se pior do que o seu antecessor", disse Adalberto da Costa Júnior, lamentando também o posicionamento "vergonhoso" das direções de informação dos canais públicos que emitiram comunicados condenando os atos contra jornalistas e responsabilizando a direção da UNITA pelo sucedido.
"Uma palhaçada, a TPA e a Zimbo perderam completamente a vergonha", afirmou o político, demarcando-se, e à direção da UNITA, do comportamento de "alguns manifestantes". Ele Defendeu ainda que, além do Governo, também o Sindicato dos Jornalistas Angolanos deve "fazer mais do que está a fazer", em prol da pluralidade da informação.
Sindicato dos Jornalistas de Angola (SJA)
Por sua vez, o Sindicato dos Jornalistas de Angola (SJA) repudiou hoje (12.09) as ameaças contra jornalistas dos canais públicos TPA e TV Zimbo que tentavam cobrir uma marcha da UNITA e disse que estes não são responsáveis pelo posicionamento dos seus órgãos.
"O SJA condena veementemente esta atitude e qualifica-a como sendo uma obstrução ao exercício de liberdade de imprensa que é um direito fundamental que todas as entidades públicas e privadas devem respeitar", disse o presidente do sindicato, Teixeira Cândido.
Sublinhou ainda que os jornalistas devem ter acesso às fontes sempre que há atividades públicas e que estes profissionais não são responsáveis pelo comportamento, tido como parcial, dos órgãos a que estão vinculados.
"O comportamento dos media, que a sociedade repudia, não é a responsabilidade dos jornalistas", reforçou, afirmando que se estes pudessem invocar objeção de consciência poderia nem haver informação.
"Estes jornalistas estão a fazer o seu melhor e não é agredindo, ou ameaçando, ou impedindo-os de fazer o seu trabalho que essa questão se resolve, porque é política e não jornalista. A tutela dos órgãos de comunicação social [públicos] é política e não jornalística", enfatizou.
Instado a comentar um comunicado difundido pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), que lamentou a agressão e intimidação a que foram sujeitas as equipas de reportagem, solidarizando-se com os jornalistas e apelando às entidades de defesa dos jornalistas a não se calarem "diante da flagrante e condenável situação de intolerância política", Teixeira Cândido considerou que foi "despropositado".