Presidenciais na Tanzânia: Magufuli vai mesmo ser reeleito?
27 de outubro de 2020O novo presidente da Tanzânia será eleito esta quarta-feira (28.10). O partido Chama Cha Mapinduzi (CCM), no poder desde a independência do país, em 1961, está confiante na vitória e acredita que nada mudará com nestas eleições. No entanto, a alta participação que os comícios da oposição têm vindo a registar deixam margem para dúvidas.
O Presidente John Magufuli vai a votos juntamente com outros 15 candidatos, mas é Tundu Lissu, do Partido para a Democracia e o Progresso (Chadema), que é considerado o seu grande opositor.
Chamado a fazer um balanço do mandato de John Magufuli, o chefe da Fundação alemã Konrad Adenauer em Dar es Salaam diz não conseguir lembrar-se de "nada positivo". Daniel El-Noshokaty é um dos vários analistas que, nos últimos dias, têm afirmado que duvidam que as eleições desta quarta-feira (28.10) sejam transparentes.
"As eleições na Tanzânia não são justas e livres, servem apenas para manter a aparência da democracia. O Presidente quer uma maioria esmagadora e vai tê-la", assegura convicto.
Nem tudo é mau
Quando foi eleito, em 2015, Magufuli prometeu pôr fim à corrupção na Tanzânia e impulsionar a economia. Cinco anos passados, há quem não esqueça o trabalho desenvolvido ao nível das infraestruturas, no setor da educação - com a redução do preço das propinas, por exemplo - ou o investimento nas zonas rurais.
Mas há também os que frisam que as dívidas do país continuaram a aumentar, assim como os abusos contra a liberdade de imprensa e de expressão. Nos últimos meses, vários membros da oposição foram presos e maltratados.
Independentemente das críticas, Humphrey Polepole, porta-voz do CCM, está confiante na reeleição de Magufuli.
"Conduzimos uma campanha muito científica na qual 89 % dos nossos comícios públicos foram feitos da parte da manhã, o que é bastante significativo, pois mais pessoas do que esperávamos puderam estar presentes para ouvir o nosso candidato presidencial, o camarada Magufuli”, analisa.
Principal adversário tem hipótese?
O advogado Tundu Lissu, de 52 anos, regressou à Tanzânia no final de julho, depois de três anos exilado na Bélgica por causa de uma tentativa de assassinato.
A julgar pelo apoio público nos seus comícios, Lissu - que é agora apoiado pelo principal partido da oposição em Zanzibar, o ACT Wazalendo - está também confiante na vitória.
"Os nossos preparativos para as eleições de 28 de outubro foram muito positivos. Enviámos os nossos agentes a cada uma das mesas de voto do país. Claro que estamos a ser confrontados com alguns obstáculos do Governo aqui e ali, mas estamos seguros de que vamos vencer com 60% a 70% [dos votos]", diz.
A oposição tem criticado as autoridades do país por desqualificar os candidatos e dificultar o trabalho dos críticos.
Observadores externos nas eleições
As eleições presidenciais desta quarta-feira (28.10) na Tanzânia vão contar apenas com a presença de observadores da Comunidade da África Oriental, pois o Governo não permitiu a entrada no país de observadores eleitorais europeus ou das Nações Unidas (ONU).
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou para que todos os atores políticos na Tanzânia assegurem eleições presidenciais inclusivas e pacíficas.
"Um processo eleitoral inclusivo e uma participação ampla e efetiva dos partidos políticos e dos seus candidatos, especialmente mulheres, é essencial para salvaguardar os progressos feitos pela República Unida da Tanzânia na consolidação da estabilidade, democracia e desenvolvimento sustentável", afirmou Guterres, em comunicado.
O secretário-geral da ONU pediu aos líderes políticos para "participarem neste exercício de forma pacífica e para se absterem de violência", enquanto apelava às autoridades para proporcionarem um ambiente seguro para todos os tanzanianos irem livremente às urnas.
Mais de 29 milhões de pessoas, incluindo eleitores da região autónoma de Zanzibar, são chamados a votar na próxima quarta-feira (28.10).