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Por que não há um cessar-fogo em Moçambique?

Marcio Pessôa11 de março de 2014

O Governo aceitou a mudança na Lei Eleitoral reivindicada pela RENAMO, mas o conflito ainda não arrefeceu. Novos confrontos registaram-se na semana passada, reacendendo o medo de que a situação fique fora de controlo.

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Foto: Getty Images/Afp/Ferhat Momade

A resolução do pacote eleitoral não estava associada ao estabelecimento de um cessar-fogo, defende o analista político Fernando Lima, chefe do grupo moçambicano Mediacoop.

“Quer-me parecer que do lado governamental, e através dos meios de comunicação ligados ao lado governamental, tem-se tentado passar esta ideia de que haveria um cessar-fogo mal o pacote eleitoral fosse solucionado. Ora, não existe formalmente qualquer acordo nesse sentido”, lembra o jornalista moçambicano, a quem os novos confrontos não surpreendem.

O ponto relativo ao pacote eleitoral está ultrapassado. No entanto, ainda estão pendentes três itens considerados fundamentais pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO): a integração dos seus membros nas forças de segurança, a questão da partidarização do Estado e a divisão equilibrada, entre todos os moçambicanos, dos lucros dos negócios envolvendo os novos projetos de exploração de riquezas do país.

Encontro entre Guebuza e Dhlakama

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Rebeldes da RENAMO na Gorongosa, onde segundo o Governo já há quase 7 mil deslocadosFoto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

Para o analista político Pedro Nhacete, é necessário um encontro imediato entre o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama.

Defende, por isso, a realização de “uma espécie de cimeira”, de dois ou três dias, para resolver a atual situação. “Os negociadores já provaram que eles vão avançando, mas há outra ala militar – tanto da RENAMO como do Governo – que vai criando sempre situações”, argumenta.

No entanto, aparentemente poderá não haver condições para este encontro por falta de segurança. “Na minha interpretação, e também de acordo com pessoas da RENAMO com quem tenho falado, há um sentimento de que não tem havido a criação de um clima de segurança em torno do líder da RENAMO para se avançar com este encontro ao mais alto nível”, justifica Fernando Lima.

Avizinham-se meses de negociações

Para Pedro Nhacete, os próximos meses serão de aceleração das negociações e de confrontos isolados. “Enquanto os políticos tentam ganhar pontos nas negociações, o conflito armado continua”, vaticina o analista.

Fernando Lima também considera que o decorrer do ano será de negociações para que se chegue a um consenso em relação às reivindicações pendentes da RENAMO. O jornalista lembra que todos os ataques e o impasse no ano passado tiveram um impacto negativo sobre a imagem do Governo junto à sociedade e dentro do próprio partido FRELIMO.

Fernando Lima
Os recentes confrontos não surpreendem o analista Fernando LimaFoto: DW

Por outro lado, à RENAMO também interessa a negociação. “O tempo também é um fator negativo em relação à RENAMO, que precisa de espaço político para desenvolver a sua campanha eleitoral. A menos que se pense, ou que a RENAMO pense, que deve boicotar” as próximas eleições, explica.

Mas isso, defende o analista, “iria contra as últimas declarações da RENAMO, ou seja, que a RENAMO não estivesse interessada em participar nas eleições de outubro.”

Na semana passada, a imprensa moçambicana noticiou confrontos na Gorongosa, no centro do país, e investidas contra um núcleo da RENAMO perto de Inhaminga, também no centro. Ainda na semana passada, durante as negociações com o Governo, a RENAMO salientou que quer um cessar-fogo, mas impõe condições.

O partido da oposição quer a mediação e monitorização internacional para um cessar-fogo e a libertação de membros da RENAMO que são mantidos presos sem julgamento. Segundo informações do Governo, os confrontos na Gorongosa já provocaram o deslocamento de quase sete mil pessoas.

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