População no sul de Angola come ervas para matar a fome
5 de fevereiro de 2016Comer ervas tem sido uma das poucas alternativas para as populações que passam fome no sul de Angola, nomeadamente no município do Curoca, província do Cunene, uma das localidades mais afectadas pela seca.
Filipe Nguenelau é um dos populares que explica os problemas vividos pelas populações.
"Muitos morreram, não há comida. Nós vivemos uma situação perigosa de fome, comemos umas ervas que nunca comemos antes. Qualquer coisa que encontrar, é só comer para ver se às vezes vou conseguir saciar a fome. Mas depois, estas ervas causam diarreia," descreve.
"Por vezes, chega-nos comida, mas quando a recebemos não chega para toda a gente", explica.
De acordo com as autoridades governamentais até ao momento morreram 5.956 bovinos, 2.658 caprinos, 2.021 suínos e 83 equinos.
Njiloy Mutango, outra cidadã do município do Curoca, queixa-se que o gado está a morrer.
"Animais já não temos mais, não temos mais caprinos, não temos mais bovinos," diz.
"Crianças, mulheres novas e adultos da terceira idade não estão a comer nada," lamenta.
Mais de 755 mil pessoas estão a passar fome
De acordo com as autoridades do Cunene, em 2015, mais de 755 mil pessoas estavam a passar fome e estima-se que o número continue a aumentar com o prolongamento da seca.
O vice-governador para o setor político e social do Cunene, José do Nascimento Vayelengue, soa o alarme.
"Já estamos há três anos sem chuvas regulares no Cunene e é claro que estes números vão subir nos próximos dias," avalia.
"A população está carente de quase tudo. Esperamos por instituições de bem, pessoas singulares ou coletivas também de bem, para acudir as vítimas da seca na província do Cunene. Como sabem esta seca prolonga-se, está sendo severa e todo o tipo de apoio é bem-vindo”, apela o vice-governador.
A União Europeia anunciou esta semana que vai disponibilizar cerca de 1,3 milhões de euros para lutar contra a fome e seca no sul de Angola. É uma intervenção de emergência que se soma a outros quatro milhões atribuídos no passado. O dinheiro destina-se às comunidades mais afetadas pela seca.