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Polícia de Moçambique interroga ativista Alice Mabota

Leonel Matias (Maputo)16 de janeiro de 2014

Em Moçambique, circula uma mensagem via telemóvel que apela a uma manifestação popular com o intuito de derrubar o Presidente Armando Guebuza. A alegada autora: Alice Mabota. Mas a ativista nega.

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Foto: DW/Leonel Matias

A polícia convocou, nesta quinta-feira (16.01), a presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique, Alice Mabota, para prestar declarações por incitação à violência e desobediência civil. Em causa, está uma mensagem eletrónica, atribuída a Mabota, que apela à realização de uma manifestação popular para derrubar o Presidente, Armando Guebuza. Mabota nega ser a autora da mensagem, como disse à DW África: “não tenho a mínima ideia de fazer uma manifestação para derrubar o Presidente”.

Alice Mabota diz que o presidente Guebuza vai a voto nas eleições de novembro e “é aí que o povo vai depositar o voto para mostrar que não o quer nem a ele nem às pessoas da FRELIMO”, uma referência ao partido governamental Frente de Libertação de Moçambique.

A ativista contou ainda o que se passou na polícia: “disse-lhes: investiguem primeiro e depois notifiquem as pessoas”. Na opinião de Mabota, é a polícia que tem a capacidade de consultar os dados para esclarecer de onde vem a mensagem por telemóvel em causa “em vez de me pedirem a mim para eu vos esclarecer”.

“Polícia tem um trabalho péssimo”

Segundo Alice Mabota, a polícia quis saber igualmente porque é que a ativista não tinha anunciado àquela corporação que estava preocupada com o teor da mensagem que circulava: “eu disse: eu não estou preocupada. E, de resto, não vou dizer nada à polícia, porque a polícia tem um trabalho péssimo. Não confio na polícia. Porque é que vou perder tempo a andar a falar à polícia sobre mensagens? São tantas as mensagens que eu recebo".

A DW África perguntou a Alice Mabota o que poderia estar por detrás da notificação da polícia: “só me apercebi que eles querem fazer uma manifestação a apoiar o presidente Guebuza. Ele tem a imagem tão desgastada, que precisa de uma manifestação”. Irónica, a ativista acrescenta: “não é proibido, podem fazer, desde que não me perturbem”. Desconfiando que têm medo da sua popularidade, Mabota comenta: “Não estão a aguentar a pressão do descrédito em que caiu este Governo”.

Demonstration gegen Entführungen und Krieg in Maputo
Alice Mabota foi promotora da manifestação de outubro de 2013 contra a insegurança no paísFoto: picture-alliance/dpa

“É preciso parar com a guerra”

Alice Mabota considera que a situação atual no país é “péssima” e tem uma exigência principal: “é preciso acabar com a guerra”. Mencionando ainda a necessidade de pôr cobro aos raptos que têm afligido o país, a ativista avisa: “nós vamo-nos manifestar se isto continuar assim”.

A Presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique reitera que não é a autora da mensagem que apela à realização de manifestações para derrubar o Presidente Armando Guebuza. Afirma ainda que, apesar de estar a receber vários pedidos para a realização da manifestação, tem defendido que a mesma não é oportuna neste momento, "porque o país está mergulhado numa guerra sem precedentes”. O conflito alastra-se e “o problema é que a FIR (Força de Intervenção Rápida) vai descarregar a raiva” do revés com a RENAMO, o maior partido da oposição, nas populações que se manifestam. “Isto é o que quer o poder. Haver manifestação, degenerar em escaramuças e dizer que não há condições para fazer eleições”, conclui.

Mulher sem medo

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Alice Mabota tem-se evidenciado pelo seu papel na denúncia de violações e na defesa dos direitos humanos no país e ainda pelas suas posições críticas do atual regime. Nos finais do ano passado, a ativista promoveu aquela que foi descrita como a maior manifestação pacífica antigovernamental nos 38 anos de independência, com a participação de cerca de 30 mil pessoas só em Maputo: “realizei e tive sucesso. Portanto, eu não me ia esconder atrás de mensagens. Nem ia teimar que sou. Mas com medo de quem? Quem é que me mete medo? Eu só tenho medo de Deus”.

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