Polícia angolana impede nova vigília de jovens ativistas
27 de maio de 2014
Um forte dispositivo policial impediu na tarde desta terça-feira o acesso ao centro do Largo da Independência, na cidade de Luanda, onde deveria ter lugar uma manifestação de jovens ativistas para protestar contra assassinatos alegadamente levados a cabo por forças ligadas ao Governo e que coincidiu com mais um aniversário da alegada tentativa de golpe de Estado de Nito Alves em 1977. Vinte jovens terão sido detidos.
Segundo fontes contatadas pela DW África, o acesso ao interior do largo, numa
das rotundas mais movimentadas do centro da capital angolana, começou a ser vigiado muito cedo por dezenas policiais.
"Chega de chacinas em Angola"- lema da vigília
O autointitulado Movimento Revolucionário, um grupo de jovens ativistas dos direitos cívicos angolanos, convocou uma concentração seguida de uma vigília para aquele local, sob o lema "Chega de chacinas em Angola”.
Mbanza Hamza, um dos ativistas presentes na concentração, disse à DW África que “a polícia voltou a servir o mesmo prato de sempre, ou seja, detenções e agressões”. Segundo o nosso entrevistado, o número de detidos é agora de 20 jovens e não se sabe "para onde os levaram". "A única coisa que sabemos é que um jornalista angolano que foi detido já foi libertado", diz Hamza, acrescentando que "enquanto levavam os detidos, a polícia disparou uma bomba de gás lacrimogéneo para dentro do carro onde os jovens se encontravam”.
E Hamza cita alguns nomes dos jovens que foram detidos: “Nito Alves, Raul Mandela, Teka Petrovski, Adolfo Campos, Abrão, Agostinho Pensador, Adriano Catumbela e outros tantos que não conseguimos por enquanto identificar”.
A concentração seguida de vigília era uma atividade puramente pacífica e, para os ativistas, "seria um momento de reflexão sobre o 27 de maio, que se quer a todo o custo calar”, sublinha Hamza, ao justificar que, precisamente por esse facto, comunicaram "com a devida antecedência ao governo da província a realização dessa atividade". "Mas, enfim...”, conclui.
Jovens totalmente desapontados com atuação da polícia de Luanda
Por seu turno, Pedro Malembe, um outro jovem que estava na concentração, manifestou-se totalmente "desapontado com esta situação que deveria acabar de uma vez por todas", porque “tudo o que estava programado foi atempadamente comunicado às autoridades". "E nem sequer recebemos nenhuma resposta", afirma. "Neste caso, partimos do princípio de que tudo iria correr da melhor forma. O dever da polícia era apenas manter a ordem pública e proteger os bens públicos, mas ela fez precisamente o contrário, reprimiu a concentração, algo que é contra os princípios de um Estado de direito um país que se diz ser democrático", considera o jovem ativista.
Malembe deixou claro que os jovens estão a entrar em contacto com o comandante geral da Polícia Nacional Ambrósio de Lemos. “Queremos que os nossos amigos e colegas sejam libertados porque não fizeram nada de mal, apenas queriam reivindicar um direito que todo o cidadão angolano pode e deve”, justifica.
A DW África telefonou várias vezes para o telemóvel do Comandante Geral da Polícia Nacional de Angola, mas ninguém atendeu.
37° aniversário da "purga" no seio do MPLA contra os "fraccionistas"
Recorde-se que este movimento de jovens tem protagonizado manifestações de protesto na capital angolana desde 2011, nomeadamente com críticas à atuação das forças de segurança, terminando geralmente em confrontos com a polícia.A vigília desta terça-feira acontece na passagem do 37.° aniversário da liquidação da ala do MPLA dirigida por Nito Alves e José Van Dunem. Sobre esta data, e segundo a convocatória colocada a circular pelo movimento, estes exigem a criação de uma "Comissão da Verdade" sobre o que aconteceu em 1977.
O movimento reclama ainda justiça para o caso dos ativistas e ex-militares Alves Kamulingue e Isaías Cassule, que desapareceram em maio de 2012. Estes tentavam, na altura, organizar uma manifestação de outros antigos camaradas de armas, para exigir o pagamento de subsídios alegadamente em atraso, nalguns casos há mais de 20 anos sem serem pagos.