África Oriental: restrições à importação de roupa usada
27 de fevereiro de 2018Em 2015, países membros da Comunidade da África Oriental anunciaram que a partir de 2019, as roupas e sapatos em segunda mão seriam banidas dos seus mercados. Os Estados Unidos da América alegaram que esta medida violaria a Lei de Crescimento e Oportunidades para África (AGOA) que visa expandir o comércio e o investimento neste continente.
Em entrevista à DW, Rodgers Mukwaya, membro da Comissão Económica das Nações Unidas para a África (CEA) explica que "a maioria dos países da África Oriental pouco se beneficia da AGOA - com exceção do Quénia”. Ou seja, continua, "a AGOA não tem grande benefício. Portanto, qualquer proibição dos EUA não deverá ter grande efeito sobre as exportações da África Oriental".
Num encontro realizado na última sexta-feira (23.02), na capital do Uganda, Kampala, líderes dos países da Comunidade da África Oriental concordaram num compromisso em resposta à pressão de Washington: importações em segunda mão não serão proibidas diretamente, mas os impostos sobre estas importações terão de ser pagos. No comunicado de encerramento da reunião, os membros da Comunidade da África Oriental informaram que querem investir mais dinheiro na sua indústria têxtil, mas com medidas que não comprometam os benefícios da adesão à AGOA.
Crescem as importações da China
À medida que as roupas em segunda mão desaparecem gradualmente do mercado, a procura por roupas novas aumenta, o que significa também um maior número de importações da China, que já estão a inundar o mercado. De acordo com Rodgers Mukwaya, "no curto prazo, o déficit de roupas no mercado será coberto por novas roupas da Ásia. No entanto, a longo prazo, à medida em que desenvolvermos a indústria local, acreditamos que podemos assumir parte desse mercado. Mas é importante expandir a indústria têxtil”.
Entretanto, se os países da África Oriental realmente quiserem impulsionar a sua indústria têxtil ainda há muito trabalho a ser feito. O Ruanda previu que cerca de 25 mil novos empregos poderiam ser criados até 2019 se as importações de roupas em segunda mão fossem banidas. Mas até agora existem apenas onze empresas no país que produzem têxteis, juntamente com outras sete que fabricam sapatos.
Como constata Linda Calabrese, membro do Instituto para o desenvolvimento, com sede em Londres, "a capacidade de produção no momento é bastante limitada”. Segundo a especialista, "para que esse espaço seja preenchido é necessário que haja um grande apoio ao setor, muitas medidas complementares. E isso não tem nada a ver com a eliminação gradual", afirma.
Já para os assalariados de baixa renda da Tanzânia, Ruanda e Uganda, a notícia de que países da Comunidade da África Oriental não proibiriam completamente as importações de roupas em segunda mão - pelo menos por enquanto - é um alívio. Michael Uwangye, de Kigali, Ruanda, por exemplo, vende roupas usadas no mercado. E explica que desde que o Governo aumentou os impostos de $ 0.20 de dólar por quilograma para $ 2,50 dólares, o seu negócio diário está cada vez mais difícil. "As vendas caíram muito. Agora, as roupas usadas são muito caras, custando duas ou três vezes mais do que antes. Se tivéssemos a roupa como antes, seria bom para os comerciantes e os moradores", garante.