Partos à luz das velas e mau atendimento nos hospitais pediátricos na Huíla
2 de outubro de 2013O atendimento nos hospitais periféricos da cidade do Lubango é descrito como lastimável pelos seus utentes. A falta de energia elétrica na rede pública faz com que muitos pacientes, entre eles gestantes, sejam assistidos nos hospitais à luz das velas.
Os geradores há muito avariaram nas instalações hospitalares e os postos médicos dos bairros Bula Matady, Nabambi e o Hospital Municipal do Lubango, mais conhecido por Ana Paula, são os apontados como maus exemplos.
Maria Lourenço Gouveia narra a história que a sua irmã mais nova viveu recentemente. "A falta de energia elétrica faz com que nós, mulheres, tenhamos os partos à luz das velas", afirma. Acrescenta que as mulheres que não têm um carro próprio, têm que esperar que a ambulância as vá buscar, o que demora "duas, três ou até quatro horas e o bebé acaba mesmo por morrer dentro da barriga", relata Maria Gouveia.
Falta de condições higiénicas
A falta de higiene nos hospitais também é referenciada por Maria Lourenço Gouveia. "Os quartos de internamento são péssimos, as casas de banho estão cheias de sangue, há falta de água". Para além disto, conta que às vezes, depois do parto, "três, quatro pessoas" dividem uma "só cama, com os seus bébés". Não conseguem descansar e há até mães que têm que se sentar numa "cadeira depois do parto", conclui.
O lixo nauseabundo no pátio da Maternidade do Lubango é um autêntico atentado à saúde pública, de acordo com Jacinta Kalianguila. "No contentor há muito lixo e fica a cheirar muito mal", queixa-se a utente. Para além disso, Jacinta conta que recebeu uma receita médica que demorou a chegar e quando tentou ir levantar os medicamentos, foi impedida porque, segundo a resposta do hospital, "chegou tarde".
"O Estado não tem é vontade, porque capacidade para ultrapassar estes problemas como energia elétrica ou mau atendimento, o Estado tem capacidade para mudar", afirma o historiador Mário Gaspar.
Para ele, o Estado angolano não tem vontade de investir nestes hospitais porque os elementos que o constituiem, não os usam para fazer os seus tratamentos. "É do nosso conhecimento que as suas esposas, filhas, não recorrem a estes serviços. Recorrem à Namíbia ou à Europa", conta o historiador, que defende que quando "o Estado quer, faz".
A DW África tentou contactar o Director provincial de saúde da Huila, mas sem sucesso.