Papa defende leis para uniões civis entre homossexuais
22 de outubro de 2020A opinião do Papa Francisco divulgada nessa quarta-feira (21.10) sobre o seu apoio aos casais do mesmo sexo, chamando-os "filhos de Deus" e dizendo que lhes deveria ser permitido ter uniões civis legalmente reconhecidas, simboliza uma mudança radical em relação aos pontífices anteriores.
"Estes são filhos de Deus, têm direito a uma família. [...] O que temos de criar é uma lei de união civil. Eles têm o direito de serem protegidos legalmente", disse o Papa no documentário "Francesco", do cineasta Evgeny Afineevsky, estreado no Festival de Cinema de Roma.
Segundo o biógrafo Austen Ivereigh, o papa já apoiava as uniões civis para casais homossexuais quando ainda era arcebispo de Buenos Aires e conhecido como Jorge Bergoglio. Portanto, o pontífice jamais mudou o seu pensamento sobre esta questão. Mas embora tenha falado anteriormente sobre uniões homossexuais, sempre se opôs ao casamento homossexual, dizendo que o casamento deveria ser apenas entre um homem e uma mulher.
"Casamento é uma palavra histórica", disse ele ao sociólogo francês Dominique Wolton num livro de entrevistas de 2017. "Sempre entre seres humanos, e não só na Igreja, tem sido entre um homem e uma mulher. Não se pode simplesmente mudar isso assim".
Nova postura
Desde o início do pontificado, o Papa tem falado de respeito pelos homossexuais e tem sido contra a sua discriminação", disse ao canal RaiNews o perito do Vaticano Vania de Luca. "A novidade hoje é que ele defende como Papa uma lei para as uniões civis".
Depois de se tornar papa em 2013, Francisco adotou um tom de acolhimento sem precedentes sobre a comunidade LGBTQ+, simbolizado pela sua famosa frase: "Quem sou eu para julgar?", e acolhendo casais homossexuais no Vaticano em várias ocasiões.
O documentário de duas horas exibido na quarta-feira traça os sete anos do seu pontificado e das suas viagens. A posição favorável do Papa sobre as uniões civis marca um avanço em relação a um documento de 2003 preparado pelo gabinete dogmático do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé.
Na altura, o organismo opôs-se ao reconhecimento oficial dos homossexuais, dizendo que poderia "desvalorizar a instituição do casamento", disse o perito do Vaticano Christopher Lamb do jornal britânico católico The Tablet.
A avaliação foi preparada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, que seria o Papa Bento XVI. Pelo contrário, em 2014 o secretário-geral de um importante sínodo (reunião de bispos) Bruno Forte apelou ao reconhecimento legal dos casais homossexuais.
Num jornal, os clérigos escreveram que "os homossexuais têm dons e qualidades a oferecer à comunidade cristã. Seremos capazes de acolhê-los, garantindo-lhes um espaço fraterno nas nossas comunidades?".