Papa Bento XVI diz adeus aos fiéis
Mais de 150 mil pessoas acompanharam esta quarta-feira (27.02.2013), na Praça de São Pedro, em Roma, a mensagem de despedida do Sumo Pontífice. Bento XVI falou em diversas línguas. Em português, agradeceu aos católicos do mundo lusófono.
"Amados peregrinos de língua portuguesa, agradeço-vos o respeito e a compreensão com que acolhestes a minha decisão", disse, lembrando o anúncio da sua resignação, que apanhou todos de surpresa há duas semanas.
"Peço que vos recordeis de mim diante de Deus e sobretudo que rezeis pelos Cardeais chamados a escolher o novo Sucessor do Apóstolo Pedro", continuou.
A despedida programada de um Papa
Bento XVI foi eleito em 2005 e, agora com 85 anos, é o primeiro Papa da história moderna a decidir resignar. Depois da sua renúncia, passará a designar-se como "Papa emérito". Esta quarta-feira, explicou aos fiéis que tomou a decisão após ponderada reflexão.
"Sentindo que as minhas forças tinham diminuído, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito", declarou Bento XVI.
Antes da mensagem aos católicos, o Sumo Pontífice deu uma volta pela Praça de São Pedro no "papamóvel" para se despedir dos fiéis de forma mais próxima. Foi a última audiência pública de Bento XVI como Papa.
Sucessor africano ou da América Latina?
O novo líder da Igreja Católica será escolhido até à Páscoa, a 31 de março. Normalmente, o conclave de cardeais que elege o novo Sumo Pontífice deve ser organizado entre 15 a 20 dias após a resignação do pontífice. Mas um decreto papal, que foi assinado por Bento XVI na segunda-feira (25.02.2013), permite que o conclave seja antecipado.
A comunicação social tem especulado sobre o sucessor de Bento XVI, com muitas vozes a preconizarem um Papa não europeu. A África e a América Latina concentram 70 por cento da população católica do mundo e o número tem tendência para aumentar.
Nalgumas nações mergulhadas em crises profundas, como na República Democrática do Congo ou no Sul do Sudão, a Igreja atua onde o Estado ainda não chega. Por exemplo, ao nível da saúde: em África há cerca de 6500 hospitais católicos.
Três cardeais africanos estão entre os nomes que já foram apontados para possíveis papas, no chamado "toto-Papa": o congolês Laurent Monsengwo Pasinya, o nigeriano John Onaiyekan e o ganês, Peter Turkson, que chefia no Vaticano o Conselho para a Justiça e Paz.
Vitalidade versus "velha cristandade"
A jornalista portuguesa Aura Miguel, especializada em assuntos do Vaticano, acredita que a Igreja Católica está preparada para ter um Papa não europeu. É fora da Europa que reside a vitalidade do catolicismo, diz, e África é um exemplo disso.
Aura Miguel acompanhou Bento XVI em todas as suas viagens ao estrangeiro, inclusive ao continente africano. A vaticanista esteve com ele em Angola, nos Camarões e no Benim. Depois de visitar África, Bento XVI "sublinhava sempre a alegria e a vitalidade da fé das populações. Em contraste com o tédio, a lassidão e a falta de brilho da fé, no chamado primeiro mundo", lembra a jornalista.
Segundo Aura Miguel, as visitas do Papa Bento XVI a África (em 2009 e em 2011) ajudam a perceber as prioridades do seu próprio pontificado.
"Porque Bento XVI alertou, sucessivamente, ao longo destes anos para o risco de uma certa rotina instalada de muitos cristãos, sobretudo na zona da chamada velha cristandade. Portanto, as viagens a África eram o oposto, foram sempre de grande sucesso", disse.
Esta quinta-feira (28.02.2013), Bento XVI termina as suas funções sem qualquer cerimónia. Um helicóptero irá transportá-lo para Castel Gandolfo, a residência de verão do Papa, perto de Roma. Dois meses depois, Bento XVI irá viver para um mosteiro no Vaticano.
Autora: Glória Sousa / Guilherme Correia da Silva
Edição: Helena Ferro de Gouveia