PAM precisa de 160 milhões de dólares para combater a fome
27 de janeiro de 2012A seca grassa na Mauritânia, Níger, Mali e Chade. Pelo menos seis milhões de pessoas já foram atingidas pela escassez de alimentos na África Ocidental, advertem os especialistas do PAM. Atualmente, a organização dispõe de uma reserva de 30 000 toneladas de géneros alimentares. O que chega para abastecer um máximo de dois milhões de pessoas durante um mês.
O coordenador da assistência de emergência das Nações Unidas, David Kaatrud, afirma que é necessário muito mais, “o PAM precisa de pelo menos 160 milhões de dólares para combater as consequências mais nefastas da seca e salvar as pessoas ameaçadas pela fome”. As reservas de dinheiro da organização já se esgotaram. “O PAM não tem um orçamento anual estabelecido. Somos uma agência das Nações Unidas financiada por doadores voluntários. Ou seja, temos dificuldades em agir, porque estamos dependentes dos donativos que nos chegam em caso de crise, da Alemanha e de outros países”.
Donativos chegam muitas vezes tarde demais
O Programa Alimentar Mundial não está em condições de agir para precaver as catástrofes. Só lhe é dado reagir quando recebe donativos. Que muitas vezes chegam tarde demais. Foi o que aconteceu, no ano passado, na África Oriental, quando inúmeras pessoas morreram por esgotamento e centenas de milhares de outras tiveram que procurar refúgio.
“A comunidade internacional – e nós e os doadores fazemos parte dela - reagiu com demasiado vagar”, sublinha David Kaatrud. “Muitas vezes só se reage quando as imagens de vítimas esqueléticas chegam aos meios de comunicação social. Nós também não somos exceção. De modo que tardámos em criar as reservas necessárias, tanto mais que demora muito tempo até que a assistência chegue aos necessitados no Quénia ou na Etiópia. E o mesmo se passa agora na zona do Sahel”.
Já há algum tempo que o PAM, que se autointitula a maior organização de ajuda humanitária do mundo, tenta reorientar a sua linha de ação. O objetivo é reconhecer a tempo potenciais catástrofes para tomar medidas preventivas. Foi lançada a cooperação a nível local com as comunidades para as preparar para as dificuldades vindouras e abastecê-las com reservas de alimentos. Está a ser deliberada a instalação de reservas perto das regiões em crise, o que permitiria uma distribuição rápida e não burocrática em caso de necessidade. Este procedimento reduz ainda os custos de transporte, diz David Kaatrud. O dinheiro poupado pode ser aplicado na aquisição de mais assistência.
A seca no leste do continente africano no ano passado foi antecipada em muitos meses e não faltaram as advertências. Mas os doadores reagiram muito tarde. “O Quénia é um bom exemplo para a consequência das reações lentas e das longas rotas de transporte em terreno tão difícil. Acusaram-nos de não ter reagido a tempo. Mas quando finalmente nos chegaram os meios para comprar os alimentos, e quisemos enviar a assistência, tinha chegado a época das chuvas e as estradas quenianas estavam inundadas”.
Papel cada vez mais importante dos privados
Para evitar estas situações no futuro, o PAM pretende obter donativos que não estejam vinculados a projetos. Só assim é possível reagir de forma preventiva e flexível e prestar uma assistência rápida, diz o coordenador da ajuda de emergência do Programa. Mas, tendo em conta a crise económica nos Estados Unidos da América e na Europa, Kaatrud conta com um recuo da assistência financeira dos doadores tradicionais.
Ultimamente, a maior parte dos donativos chega da região do Golfo Árabe. A Arábia Saudita colocou à disposição do PAM 500 milhões de dólares e também o Qatar e os Emiratos Árabes Unidos mostram-se generosos. Os doadores privados, por seu lado, assumem um papel cada vem mais importante. Os donativos de grandes consórcios já representam dez por cento do orçamento do PAM.
Autor: Bettina Marx / Cristina Krippahl
Edição: Helena Ferro de Gouveia / António Rocha