PAIGC "fez bem" em adiar o congresso
14 de fevereiro de 2022O X Congresso Ordinário do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) estava marcado para 17 a 20 de fevereiro, mas já não vai ter lugar nesses dias.
Em comunicado divulgado esta segunda-feira (14.02), a Comissão Permanente do partido disse que, "apesar de serem discriminatórias", vai obedecer às medidas restritivas impostas pelo "Estado de Alerta" contra a pandemia da Covid-19 e adiar a reunião magna.
O analista político Augusto Nansambé considera que é a decisão acertada. "O PAIGC tem razão. Se mantiver o congresso, é provável que [as autoridades] mobilizem uma força para entrar em confronto com os delegados", afirma Nansambé em declarações à DW África.
"Vimos como nos últimos tempos estão a investir de forma massiva e a espancar as pessoas de forma gratuita", acrescenta.
Dois pesos e duas medidas
Em comunicado, o PAIGC acusa a Presidência da República e o Governo de interferências nos assuntos internos do partido "através de manobras encapotadas para dificultar a realização" do congresso.
Muniro Conté, secretário para a comunicação do PAIGC, refere que, no decreto sobre o Estado de Alerta, "pela primeira vez, foram sublinhadas as [proibições às] reuniões políticas de base, uma mensagem clara e intencional às assembleias de base e às conferências do PAIGC".
O analista político Augusto Nansambé considera que o Governo tem usado dois pesos e duas medidas.
"Vemos o Conselho de Ministros a reunir sem problema nenhum. Até o chefe de Estado convocou recentemente uma reunião na Presidência da República [com os líderes do poder tradicional] onde estiveram mais de 150 pessoas, mas não foram impedidos."
A DW África pediu, mas não obteve uma reação da Presidência da República sobre esta acusação.
Medidas de segurança
O adiamento do congresso do "partido dos libertadores" aconteceu depois das cenas de violência que marcaram o país nos primeiros dias de fevereiro, da tentativa de golpe de Estado ao assalto e destruição da rádio privada Capital FM.
Muniro Conté diz o que o PAIGC vai criar "mecanismos de autossegurança para poder garantir a realização do seu encontro maior num ambiente mais calmo e tranquilo".
"Quem é que confia em segurança neste país, em que as pessoas são atacadas, as rádios são vandalizadas?", questiona o secretário para a comunicação.
A Comissão Permanente do PAIGC vai agora propor ao Comité Central que o congresso seja realizado de 10 a 13 de março.
Por enquanto, só dois dirigentes do PAIGC manifestaram a intenção de concorrer à liderança do Partido, nomeadamente o porta-voz, João Bernardo Vieira, e o advogado Octávio Lopes.