Parlamento sem oposição
23 de junho de 2015Os partido no poder na Etiópia e seus aliados conseguiram 100% dos assentos no Parlamento, anunciou nesta segunda-feira (22.06.2015) a administração eleitoral do país. Nas eleições legislativas de 24 de maio, o partido no governo na Etiópia, Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope (EPRFD), angariou todos os lugares da câmara dos representantes do povo, a câmara baixa do parlamento. Assim, o único representante da oposição para o círculo eleitoral de Addis Abeba terá que entregar o seu lugar. A oposição classificou as eleições como uma "desgraça antidemocrática".
Tiegestu Awelu, Chefe do partido oposicionista Unidade para Democracia e Justiça (UDJ), se pronunciou e disse que não tem interesse nesse resultado afinal foram observados tantos problemas em todo o processo, que ele não é válido. Já Mererra Gudina, vice-pesidente do partido da oposição etíope Medrek, disse que o escrutínio não foi realmente uma eleição, mas um roubo de votos e que é impossível que um único partido tenha conseguido cem por cento das cadeiras do Parlamento: "Nós nunca aceitamos essas eleições e vamos continuar a lutar pacificamente".O Primeiro-ministro etíope, Hailemariam Desalegn, que governa o país desde 2012, tinha prometido abrir o sistema político e dar mais espaço para a oposição. Mas aconteceu o oposto.
O sonho da reforma política
No próprio dia do escrutínio, tudo ocorreu de forma ordeira e pacífica. Mas antes o governo já havia detido oposicionistas e jornalistas críticos. Segundo Friedrich Kramme-Stermose, chefe do escritório da Fundação alemã Friedrich Ebert em Adis Abeba, o foco do governo etíope não está na democracia: "O governo coloca ênfase mais no desenvolvimento económico do país e tem repetidamente salientado que a reforma política não está em primeiro lugar."
Há dez anos, a economia etíope cresce entre nove e doze por cento, considerado um sonho para os padrões africanos. Ao longo da última década, o abastecimento elétrico foi consolidado e a rede de telefonia melhorada, mas para Jason Mosley, analista político especializado em assuntos internacionais da Chatham House de Londres: "Se isso é sentido pela grande maioria da população da maneira que se traduziria em um resultado eleitoral… Não tenho certeza de que este seria um grande fator de influência. "
Ainda assim, o governo em Adis Abeba tem de provar o seu desempenho, pondera Friedrich Kramme-Stermose: "O poder de liderança política do país está ligado à sua capacidade de reapresentar o sucesso económico, porque essa é a sua base de legitimidade."
Posição privilegiada
A Etiópia, o segundo país mais populoso do continente, é a sede da União Africana. Isso cria vantagens. Muito embora continue a ser um dos países mais pobres do mundo, é cortejada por muitos lados. Além da China e da União Europeia, os Estados Unidos disponibilizaram ao país 490 milhões de dólares em 2014, garantindo assim sua influência na região, diz JasonMosley: "É a proximidade com o Médio Oriente e a presença de organizações ligadas internacionalmente como a Al-Shabaab na Somália e cada vez mais no Quénia que torna esta região um parceiro de segurança importante para os EUA".
No próximo mês, Barack Obama deve se tornar o primeiro Presidente americano a fazer uma visita de Estado à Etiópia. É questionável, no entanto, se o diálogo político poderá influenciar na melhoria da situação dos direitos humanos no país.